quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Novas tecnologias e processos para melhorar a saúde no trabalho

Extraído do site da Revista Inforochas

Novas tecnologias e ferramentas legais para melhorar a saúde e a segurança no trabalho dentro das empresas. Foi o que empresários, profissionais e estudantes puderam conferir nas palestras do “IV Seminário Segurança no Trabalho e o Setor de Rochas Ornamentais”.
O evento, que já virou tradição entre as empresas locais, aconteceu na última terça-feira (dia 28), no auditório do Centro Universitário São Camilo, em Cachoeiro de Itapemirim.
A primeira palestra foi ministrada pela coordenadora de Higiene do Trabalho da Fundacentro, Ana Maria Tibiriçá Bon, que mostrou as vantagens do uso dos equipamentos de corte e acabamento a úmido nas marmorarias.
Ela mostrou que a nova norma do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) – que deverá ser adotada por todas as empresas até setembro de 2009 – contribui para considerável redução das partículas de sílica no ambiente de trabalho, diminuindo a incidência de silicose.
“Com a umidificação dos processos, a poeira diminui em 95% no ar da marmoraria, além da redução de 93% na quantidade de partículas respiráveis, que oferecem risco de silicose”, explicou a especialista.
Ana Maria acrescentou que é preciso também investir em medidas complementares, como o uso de equipamentos de segurança adequados, proteção respiratória e limpeza do ambiente.
Na seqüência, o representante do Ministério da Previdência Wanderley Codo apresentou a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e o Nexo Técnico Epidemiológico, nova metodologia para a classificação das doenças ou acidentes de trabalho.
Com base na nova classificação, ele apontou os principais problemas de saúde que podem ser relacionados ao trabalho no setor, com destaque para os traumatismos.
Além disso, tirou dúvidas sobre o Fator Acidentário de Prevenção (FAP), que entraria em vigor em 1º de janeiro de 2009, mas foi adiado pelo ministro da Previdência para 1º de janeiro de 2010, para reformulação em sua metodologia.
Através do FAP, o governo pretende reduzir o seguro de acidente de trabalho pago pelas empresas que conseguirem reduzir a incidência de acidentes de trabalho. Da mesma forma, será aumentada a alíquota das empresas que registrarem mais acidentes.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A bolha americana estourou. E agora?

Extraído do site da Revista Inforochas
Por Daniel Hirschmann

A crise nos Estados Unidos, que causou estragos mais fortes na economia mundial em setembro, é uma velha conhecida do setor de rochas ornamentais. No Espírito Santo, os empresários do segmento já sofrem com a queda das vendas para o mercado americano desde os primeiros sinais de turbulência.
Só no último mês de agosto, as exportações nacionais do setor tiveram uma queda de 19,53% em relação ao mesmo período de 2007, com um volume de US$ 83 milhões, equivalente a 153 mil toneladas. No acumulado do ano, a queda está na casa dos 11,83%.
A redução se explica pela paralisação de novas construções nos Estados Unidos. Como há muitos imóveis disponíveis, a oferta acaba sendo maior do que a procura por granitos. Além da baixa demanda, as empresas brasileiras que atuam no mercado americano enfrentam a retração do crédito e têm dificuldades para receber os pagamentos.
O resultado é uma piora nas expectativas dos empresários capixabas, que já falam em queda na ordem de 20% em 2008 e 2009 nos negócios do setor de rochas.
“Há várias empresas fechando e outras enxugando. Investimentos, nem pensar”, lamenta o conselheiro do Centrorochas e proprietário da Tracomal, Geraldo Santana Machado.
Ele avalia que, até o final de 2009, será necessário diminuir a produção e investir na aplicação de granitos em outras atividades. Apesar de esperar um impacto positivo do pacote de ajuda do governo Bush aprovado pelo Congresso americano, de R$ 850 bilhões, o conselheiro do Centrorochas acha que os efeitos só serão sentidos no longo prazo.
Por enquanto, o caminho para driblar a crise é reduzir custos e produzir de acordo com as vendas. “Acredito que devemos ter mais cautela e profissionalizar mais o nosso setor”, comenta.
O advogado Marcus Soares, assessor jurídico do Centrorochas para cobrança nos Estados Unidos, também vê necessidade de profissionalização. Ele explica que as empresas americanas estão sendo mais duras e restritivas em sua política de crédito.
“Recomendo que as empresas brasileiras do setor de rochas busquem se profissionalizar, fazendo políticas de crédito coerentes com o momento atual”, afirma.
Segundo Soares, o mercado vai passar por um processo de “limpeza” e reorganização, eliminando as empresas que não são competitivas.
Pior crise desde a Segunda Guerra
Um dos maiores efeitos da crise é a falta de confiança no mercado financeiro internacional, que provoca escassez no crédito. O vice-presidente do Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Estado do Espírito Santo (Sindiex) e presidente da Famex Comercial, Marcilio Machado, explica que os bancos ficaram mais rigorosos na concessão de financiamentos.
Ele considera esta a pior crise desde a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, nota que há comprometimento político dos países mais ricos para amenizar o problema e permitir que o mercado funcione. “Precisamos, contudo, nos preparar para os solavancos”, adverte.
Segundo ele, o pacote do governo americano deve atenuar o problema. “O pacote poderá mostrar aos consumidores e à sociedade americana que o governo está disposto a agir e agirá de modo a evitar um problema de dimensões muito maiores”, avalia.
Mesmo assim, dificilmente os Estados Unidos escaparão de uma recessão em 2009, sem prazo para ser solucionada.
“Temos que estar preparados para uma redução da demanda, principalmente nos Estados Unidos e Europa. Como os Estados Unidos também são o destino dos produtos exportados pela China, deverá haver uma redução do crescimento daquele país. No curto prazo deveremos ter muito cautela ao tomar decisões, pois o mercado estará cheio de incertezas”, diz Machado.
A dica é manter os custos sob controle e tentar nichos de mercado menos atingidos pelo problema de crédito e que ainda precisem de produtos do setor.
“Não aconselho a abandonar o mercado externo, mas devemos olhar com muita atenção para as oportunidades do mercado brasileiro, que poderá ver o seu PIB (Produto Interno Bruto) crescer em 2009, embora um pouco menos”, sugere.
O assessor jurídico do Centrorochas nos Estados Unidos, Marcus Soares, prevê a continuidade da queda do mercado até um ponto de equilíbrio, com uma correção dos preços sobrevalorizados. Ele acredita que o mercado vai se reestruturar, porque não pode se manter com a política de crédito atual. “Quem conseguir um mix de política e preços adequados sobreviverá no mercado americano”, avalia Soares.
SAIBA MAIS
Histórico
A crise na economia mundial começou no segundo trimestre de 2005, com uma onda de “foreclosure”, a execução de hipotecas imobiliárias por não-pagamento, nos Estados Unidos.
Essa situação foi provocada por quatro anos de muita especulação, valorização excessiva e necessidade de renegociação de dividas, que geraram novos empréstimos, com taxas mais altas.
Os bancos estenderam o crédito sem avaliar os riscos corretamente, sempre cobrando taxas de juros altas para o final do contrato.
Com a crise no mercado imobiliário americano, as exportações de rochas ornamentais das empresas capixabas caíram, afetando todo o setor.
Previsões
Existem estimativas que apontam para uma década até que o problema nos Estados Unidos seja solucionado. Até lá, os preços dos imóveis continuarão caindo, devido à grande oferta.
Outra previsão fala que, até 2010, continuará havendo redução de valor no mercado imobiliário, chegando a uma queda de 20%.
Uma terceira estimativa diz que esta queda ou ajuste que começou em 2005 representará uma perda média 18% nos Estados Unidos e 33% dos mutuários terão imóveis com valor abaixo do mercado.
Impactos
Em agosto, as exportações do setor de rochas no Espírito Santo caíram 16,5% em relação ao mesmo período de 2007. O volume foi de US$ 55,3 milhões, equivalente a 86,5 mil toneladas. Com exceção da Ardósia, todos os produtos apresentaram queda elevada.
No acumulado do ano, até agosto, o setor registrou um volume de US$ 648 milhões, correspondentes a cerca de 1,3 milhão de toneladas. É um resultado 11,83% inferior ao registrado no mesmo período de 2007.
Desse montante, o Espírito Santo participa com cerca de 66% , Minas Gerais com 22%, cabendo aos demais estados da federação, os 12% restantes.
Fonte: advogado Marcus Soares e Centrorochas

Motoristas têm dois meses para fazer curso de formação

Extraído do site da Revista Inforochas

Motoristas que transportam rochas ornamentais devem ficar atentos. No dia 1º de janeiro, vence o prazo para se adequar à Resolução 285, publicada em agosto pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que cria novos cursos de formação para condutores, complementando as exigências da Resolução 264, que trata do transporte de rochas.
Todas as unidades do Sest/Senat no Espírito Santo estão habilitadas e credenciadas pelo Detran para oferecer o curso, que tem a duração de 50 horas. A cada cinco anos, o motorista terá que fazer uma atualização, com duração de 16 horas.
O diretor da unidade do Sest/Senat de Cariacica, Eliomar Rossati, observou que, devido à carga horária, os motoristas não devem deixar para a última hora, pois o curso deverá ser feito durante uma semana, das 8 às 17 horas, ou em dois finais de semana, incluindo uma sexta-feira.
O coordenador da área, Helzio Soncini da Silva, explicou que, para participar, será preciso atender a pré-requisitos, como: estar habilitado nas categorias C ou E; não ter cometido nenhuma infração grave ou gravíssima, ou ser reincidente em infrações médias nos últimos 12 meses; não estar cumprindo pena de suspensão do direito de dirigir, cassação da CNH, ou pena decorrente de crime de trânsito.
O conteúdo programático já foi elaborado, de acordo com as exigências da resolução. Serão quatro módulos, contendo legislação de trânsito, direção defensiva, noções de primeiros socorros e movimentação da carga.“A importância de fazer o curso é que o motorista, além de se adequar à norma, irá colaborar para a segurança no trânsito”, ressaltou o coordenador.
Quem não se adequar até o prazo, será punido de acordo com o artigo 162 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Além da multa de R$ 574,72, pela infração gravíssima, poderá ter o veículo retido pela Polícia Rodoviária Federal, até a chegada de um motorista devidamente habilitado.
Atenção
O superintendente do Sindirochas, Romildo Tavares, ponderou que o curto prazo para os condutores se adequarem preocupa a entidade.
“Podemos afirmar que, neste contexto, não houve omissão do Sindirochas, das empresas e, muito menos, dos condutores. Nada poderia ser feito sem a regulamentação, que somente foi publicada no Diário Oficial da União em 22 de agosto de 2008”, ressaltou.
Saiba mais:
O SEST/SENAT é a entidade que está devidamente habilitada e credenciada pelo Detran-ES para a realização destes treinamentos, inclusive já está aceitando inscrições para formação de turmas. Os contatos poderão ser realizados diretamente com as unidades do Sest/Senat, localizadas no Espírito Santo, conforme endereços abaixo:
CARIACICA
Rodovia Governador José Sette, s/nº, Km 0,5, Trevo Alto LageFones: (27) 2123-3450 / 2123-345E-mail: capit12@sestsenat.org.br
CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
Rua Projetada s/nº, com acesso pela Rua Giovanna Meneghini, AeroportoFone: (28) 2101-0121E-mail: capit56@sestsenat.org.br
COLATINA
Avenida Fidelis Ferrari, s/nº, São SilvianoFones: (27) 2101-8000 / 2101-8013E-mail: capit67@sestsenat.org.br
SÃO MATEUS
Rodovia BR 101 Norte, Km 70 (Posto Rio Negro Ltda.), CEACFone: (27) 3773-3380E-mail: pate06@sestsenat.org.br
VIANA
Rodovia BR 262, Km 12,7 (Posto Canaã) – BuiaiarasFones: (27) 3255-1990 / 3255-1637E-mail pate09@sestsenat.org.br

sábado, 25 de outubro de 2008

Aversão a risco eleva procura por seguro para crédito a exportação

Extraído do site Último Segundo

Com a propagação da crise financeira dos Estados Unidos para o resto do mundo, os exportadores brasileiros ficaram mais cautelosos e passaram a procurar com mais freqüência seguro de crédito para linhas do comércio exterior. Na outra ponta, com a aversão ao risco disseminada e o aumento da demanda, a resposta foi imediata: taxas mais altas e diminuição dos prazos de financiamento, que poucas vezes ultrapassavam o período de um ano.

Mesmo assim, as seguradoras já amargam o pagamento de indenizações a contratos que não foram honrados.

Atuam nesse mercado no Brasil cinco empresas, todas de origem internacional: Coface, Euler Hermes, Crédito y Caución, CesceBrasil e Mapfre - o setor é regulamentado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), subordinada ao Ministério da Fazenda. De acordo com a Susep, as receitas de prêmios emitidos entre setembro de 2007 a agosto de 2008 somaram R$ 87,884 milhões, com o crescimento dos prêmios de 51% em agosto sobre igual período do ano anterior. No mundo, a expansão foi bem menor, de 7%. No mesmo intervalo, a proporção dos sinistros reconhecidos sobre os prêmios emitidos, segundo cálculos da Coface, foi de 57%, maior do que a taxa de 50% de agosto de 2007 a setembro do ano passado.

Em condições normais, os exportadores podem recorrer a três tipos de instrumentos para se protegerem de um calote: pagamento antecipado, carta de crédito e o seguro. "Neste momento de crise, é muito difícil obter uma carta de crédito, e o pagamento antecipado só ocorre se a importadora estiver capitalizada, então as empresas estão buscando mais o seguro", explica o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Para se ter uma idéia, a maior empresa do ramo, a Coface, registrou um aumento de 30% na consulta do serviço de julho a setembro em relação ao trimestre anterior, de acordo com o diretor comercial da empresa, Daniel Nobre. Os números absolutos não são divulgados pelas companhias. Mais nova no mercado doméstico, a Crédito y Caución aportou no Brasil praticamente junto com o início da crise financeira mundial, em junho do ano passado. Mesmo assim, de acordo com o presidente da empresa no Brasil, Jesus Victório Cano, o número de propostas submetidas à análise este ano dobrou ante o início das operações em 2007. "Estamos percebendo que, desde que começou a crise nos Estados Unidos, as empresas estão procurando mais o serviço de crédito porque a situação das compradoras no exterior está mais complicada", afirma Cano, referindo-se a dados mundiais.

A constatação dos dois executivos é de que o instrumento está se disseminando. Numa primeira fase, o aumento da busca por esse seguro no Brasil deu-se justamente por conta da melhora da economia global, que proporcionou a diversificação dos destinos das exportações nos últimos anos, até então muito concentradas em Estados Unidos, Europa e Mercosul. O que era uma oportunidade de negócios, se transformou também numa incerteza em relação à fonte pagadora, que era o desconhecimento desses "novos mercados". Daí a busca pelo hedge.

"Quando um exportador procura o seguro de crédito é porque ele tem dificuldade de acesso de informação no exterior, não sabe seu processo regulatório", explica Nobre. "A cobrança internacional é cara e a fidedignidade das informações é difícil", continua, acrescentando que, além do seguro em si, que protege contra o risco comercial, o instrumento serve como um hedge para riscos políticos.

Crédito mais caro

Para Castro, da AEB, atualmente há um aumento visível dos dois tipos de risco. Dessa forma, não há como escapar: o crédito ficou mais caro. "É preciso analisar a relação custo/benefício da operação e isso só pode ser feito caso a caso, não há uma regra." Mesmo sendo um dos poucos instrumentos acessíveis neste momento, o vice-presidente da Associação alertou para o fato de que até mesmo o seguro costuma secar, principalmente no caso de países que possam vir a enfrentar um problema econômico no futuro. Seria um bom exemplo dessa situação o conjunto de países da América Latina, já que a região é dependente das commodities, que estão em queda.

De acordo com dados do Banco Central, o volume de operações cambiais somou este ano, até a segunda semana de outubro, US$ 153 bilhões, dos quais US$ 36 bilhões em ACCs; US$ 38 bilhões de pagamento antecipado e US$ 78 bilhões das demais operações. "As ações do BC claramente estão ajudando, somos dependentes delas. Se não fossem as medidas, não teriam mais operações", avalia Castro. Ele refere-se às iniciativas da autoridade monetária de irrigar o sistema e, em especial, a Medida Provisória 443 que concede linhas de financiamento a bancos, com garantias, desde que os recursos sigam para o comércio exterior.

Ainda que todos os agentes do setor estejam detectando um aumento da busca pelo seguro, Castro salienta que sua representatividade dentro do mercado ainda é muito pequena, em torno de 5% do total. Cano admite que essa cultura ainda pouco se expandiu no País e relatou que, até o momento, a maior procura pelo instrumento é de empresas que vendem para os Estados Unidos. "A crise vai representar uma mudança da economia global, de tudo o que conhecemos até o momento", avalia. Nobre, da Coface, confidenciou que a exposição de risco da empresa (volume de risco que é assegurado) para linhas que contemplem importadores dos Estados Unidos foi reduzida em 20% no trimestre entre junho a agosto. Na Argentina, a diminuição foi ainda maior, em 30%, já que além do risco comercial, teme-se o risco político.

Evidentemente, segundo Cano, quando o exportador vende para países afetados pela crise há um temor maior com relação à inadimplência. "As taxas aumentam, o limite de risco se adapta à situação do país em que a empresa está localizada." Nobre ressalta que o apetite por risco, inclusive o da seguradora, diminui nestas circunstâncias. "Ficamos mais rigorosos, mais conservadores, mais criteriosos em relação a risco político e comercial. Mas a demanda, mais do que nunca, é explosiva neste momento", afirma. A maior demanda é por linhas de curto prazo, com extensão de até 365 dias. Assim, se a atividade é basicamente de curto prazo, dificilmente subirá agora com crise. As empresas consultadas foram consensuais ao citarem o setor da construção civil, em especial o segmento de mármores e granitos, como os maiores demandantes do seguro.

O uso do seguro é baseado em três pilares. O primeiro seria o da prevenção, que está relacionada ao temor de uma solvência creditícia. O segundo, é o da indenização, no caso de ocorrer um sinistro. Já o terceiro está relacionado à gestão de cobrança, quando a empresa seguradora deve reclamar a dívida do cliente. Em todos os países em que a Coface atua (um total de 63), segundo o seu diretor, houve um aumento do número de indenizações da ordem de 55% nos primeiros três meses deste ano ante o mesmo período de 2007. Nobre lembra que, graças ao período de bonança imediatamente anterior ao atual, o setor pôde ampliar o seu colchão de reservas para enfrentar um período mais turbulento, como o de agora.

Microempresa: como ter crédito barato na crise

Extraído do site Gazeta Online

24/10/2008 - 00h37 - Abdo Filho - afilho@redegazeta.com.br

Se o crédito bancário está difícil para exportadores e para importadores, o mesmo não se pode dizer para os micro e pequenos empresários que atuam no mercado interno.

Embora os juros tenham registrado leve alta nos últimos três meses (tempo do agravamento da crise financeira global), em torno de 0,3 ponto percentual, a oferta de linhas de financiamento ainda é grande.

É possível tomar empréstimos com taxa de 6,75% ao ano, caso do Banco do Nordeste, e com 0,95% ao mês, juro oferecido pelo Banco do Brasil (veja opções no quadro à direita).

Depois que o banco americano Lehman Brothers quebrou e a crise começou, os bancos daqui passaram a ter mais cautela: as análises feitas com as empresas estão mais criteriosas. As instituições estão pedindo, entre outras coisas, garantias reais, um planejamento, mais bem elaborado, de viabilidade econômica e um bom gerenciamento financeiro pelas empresas.

Segundo a gerente de Acesso ao Crédito do Sebrae Espírito Santo, Daniela Negri, o momento realmente exige cautela. "Tenho conversado com vários bancos que atuam no Estado e, realmente, não há mudanças fortes provocadas pela crise, mas não há como negar que as análises estão bem mais minuciosas. Até dois meses atrás havia crédito para todo mundo, hoje já não é mais assim", disse.

O presidente Associação dos Representantes de Bancos do Espírito Santo (Arbes), Jorge Eloy, segue a mesma linha de raciocínio. "O ambiente é de crise e exige esse tipo de postura cautelosa", destacou Eloy.

Daniela Negri destacou que apesar da cautela, o momento não é restritivo. "Se a empresa tiver uma boa gestão, não há porque não apanhar o empréstimo. Estamos em uma crise, mas não podemos parar. Os empresários têm que olhar para frente".

Já o aumento dos juros, diz o representante dos bancos Jorge Eloy, não significa grande impacto na vida dos micro e pequenos empresários. "Existe o efeito, sim, mas não é desastroso. Antes, o aumento era necessário para combater a inflação. Agora, são duas forças que impulsionam a alta: a crise e a inflação".

O juro para capital de giro passou dos 30,4% anuais em junho para os 32,9% anuais em agosto.

Investimento no futuro do projeto

Não tão animado a investir agora, o microempresário Admilson Loureiro, da Zocata (que revende sucatas em metal), vê seu produto cair de preço, diante da redução das vendas para a indústria siderúrgica. "É a crise", disse. Ele procurou um banco, na semana passada, para tomar seu segundo empréstimo neste ano. O anterior ficou em R$ 80 mil. Mas "a gerente não recusou o crédito, mas recomendou que eu esperasse um pouco, antes de pegar o financiamento", relatou. Ele ponderou, decidiu não assumir novas dívidas, e acredita que seu negócio vai continuar dando certo nos próximos meses. Não descarta investimentos futuros.

Onde há empréstimo disponível

Instituições financeiras oferecem limites financiáveis de até 100%

BANCO DO BRASIL

· Cartão BNDES: financia a compra de máquinas, equipamentos, veículos e outros bens de produção para sua empresa, diretamente de fornecedores credenciados no portal do Cartão BNDES.

Valor máximo para contratação: R$ 250 mil

Limite financiável: até 100%

Prazo: entre 3 e 36 parcelas mensais

Taxa: 1,14% ao mês

· Proger Urbano Empresarial: financia investimentos de empresas com faturamento bruto anual de até R$ 5 milhões.

Limite financiável: 80% do valor do projeto

Limite: R$ 400 mil, com ou sem capital de giro associado

Prazo: até 72 meses, incluído período de carência de até 12 meses

Taxa: de TJLP mais 5,33% ao ano (taxa equivalente de 0,95% ao mês)

· BB Giro Rápido: Crédito pré-aprovado, disponível para utilização de uma só vez ou em parcelas.

Limite: até R$ 120 mil

Prazo: 18 parcelas mensais

Taxa de juros de 2,24% a 2,50% ao mês

BANCO DO NORDESTE

· Fundo Constitucional do Nordeste: Investimento fixo mais capital de giro

Limite: sem limite específico

Prazo: 16 anos com carência

Taxa: 6,75% ao ano para micro e 8,25% ao ano para médias

· Capital de giro

Limite: para as micro R$ 180 mil, para a pequenas R$ 540 mil

Prazo: 24 meses

Taxa: a partir de 0,98% ao mês

CAIXA

· Capital de Giro

Taxa: a partir de 1,27% mais TR

Prazo: 24 meses

Limite: depende da capacidade financeira e de aprovação cadastral de cada proponente.

BANESTES

· Arrendamento Mercantil (leasing) ou Financiamento de Bens

Finalidade: Aquisição de bens de consumo (veículos e máquinas) ou de produção (equipamentos, industriais ou de serviços)

Taxa de juros: entre 1,75% a 3% ao mês, de acordo com as características do objeto financiado e o prazo da operação

Prazo máximo de financiamento: em até 60 meses

· Capital de Giro Linha de crédito destinada a suprir deficiência de caixa das empresas, com contratação na agência.

Valor mínimo: R$ 2 mil

Valor máximo: depende da análise cadastral do cliente

Prazo: até 24 meses

Juros: 2,75% a 4,56%, podendo ser alterada em função de garantias, perfil do cliente, entre outros

TAC 1,5% do valor do crédito, com mínimo R$ 200,00 e máximo de R$ 500,00

· Invest Giro Banestes Fampes Linha de crédito destinada a financiamento a micro e pequenas empresas, com faturamento de no máximo R$ 2,13 milhões

Valor mínimo: R$ 2 mil

Valor máximo: R$ 100 mil

Prazo: até 36 meses

Taxa de juros: 1,70% ao mês mais TR

TAC: 1,0% do valor do crédito, com mínimo de R$ 30,00 e máximo de R$ 100,00

BANDES

· Profort: Investimento fixo mais capital de giro

Limite: até R$ 50 mil

Prazo: 72 meses com carência

Taxa: 10% ao ano

· BNDES automático:

Investimento fixo mais capital de giro

Limite: até R$ 10 milhões

Prazo: variável

Taxa: 6% ao ano mais TJLP

· Nossocrédito:

Investimento fixo mais capital de giro

Limite: até R$ 5 mil

Prazo: 21 meses com carência

Taxa: 1% ao mês

SICOOB

· Capital de giro

Limite: não tem

Prazo: 12 meses

Taxa: 1,4% a 4% ao mês

· Investimento fixo

Limites: R$ 400 mil

Prazo: 52 meses com carência

Taxa: 2,05% a 2,2% ao mês

· Investimento fixo mais capital de giro

Limite: até 70% do investimento

Prazo: 72 meses com carência

Taxa: 4% ao ano mais TJLP

Perfil do setor

Importância para a economia

55.003 microempresas - É o número de micronegócios que existem no Espírito Santo.

87,6% do total - É quanto as microempresas representam do total de companhias, de todos os portes, atuantes no Espírito Santo.

62.796 micro e pequenas - É quantas micro e pequenas empresas há no Estado.

97,92% do total - É quanto as micro e pequenas empresas representam do total de companhias, de todos os portes, atuantes no Estado

Rais - IBGE. Dados mais recentes de 2006.

Juros em alta

Evolução das taxas no ES

71,89% agosto/2008 - É a taxa média anual de juro do cheque especial para pessoa jurídica em 2008

62,51% agosto/2007 - É a taxa média anual de juro do cheque especial para pessoa jurídica e, 2007

Fique atento

Tenha muita atenção

Diferença é grande. Procure as melhores opções. Com o mercado instável as variações do preço do "dinheiro" são mais visíveis, portanto, vale a pena pesquisar.

Crédito personalizado. Procure as linhas de financiamento que mais se adaptem ao seu negócio. Por exemplo, não adianta apanhar um empréstimo de curto prazo se o seu negócio exige períodos mais longos. Você pode estar pagando mais caro por algo que não vai te atender. O que define o tipo do empréstimo são as suas necessidades.

Planejamento é importante. Estude bem as expectativas de retorno, porque caso suas expectativas não se confirmem você terá que estar preparado para pagar o financiamento. Tenha um bom projeto de viabilidade econômica e uma gestão financeira eficiente. Os bancos pedem o estudo de viabilidade antes de concederem crédito e o Sebrae faz isso gratuitamente para micro e pequenos empresários.

Acompanhe as notícias. Tenha mais conhecimento do cenário que se apresenta. Busque mais informações, analise a crise e consulte um especialista. Procure, antes de tudo, saber o que está acontecendo.

Documentação. Mantenha as garantias reais desimpedidas, e o cadastro com o banco e as certidões negativas em dia.

Fontes: Arbes e SEBRAE

Fundo do Sebrae pagará dívidas de empresas

A gerente de Acesso ao Crédito do Sebrae-ES, Daniela Negri, revelou que um dos planos da entidade para 2009 é criar uma espécie de fundo empresarial contra possíveis crises de crédito. "O fundo teria contribuições dos empresários, e pagaria os financiamentos que não foram honrados por determinada empresa. Em um momento como esse, se esse fundo já estivesse funcionando, os bancos não ficariam com tanto receio de emprestar. Essa ferramenta funciona muito bem na Europa", explicou.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O desafio de evitar um colapso

Extraído do site da Revista Pedras do Brasil

Os setores financeiros mundiais estão em dificuldades, porque muitos investiram demais no mercado de hipotecas. Quando a bolha imobiliária norte-americana estourou, os bancos ficaram sem saber quais dos seus empréstimos seriam repagos e quais sofreriam calote. O que começou como um pequeno problema, agora tomou conta de todo o mundo.

Por Karina Porto Firme

O colapso da bolha imobiliária atingiu primeiro o setor ornamental brasileiro, que viu suas exportações diminuírem, consideravelmente, com a valorização do Real. Agora, com a eclosão da crise norte-americana mundo a fora, o problema passa a ser de demanda.

Em outubro de 2006, a Revista Pedras do Brasil divulgou a matéria “Bolha americana deixa mercado em alerta” e mostrou que, frente ao possível estouro da bolha imobiliária, o setor de pedras, ainda, investia no mercado externo e amargava uma inadimplência de US$ 10 milhões. A intenção era fazer com que os exportadores do setor passassem a olhar, com mais atenção, para o mercado interno.

A bolha americana estourou e tem jorrado suas perdas aos outros países da nação. No Brasil, os primeiros impactos estão sendo sentidos, principalmente, no mercado financeiro. Ações em baixa, crédito em falta, juros altos e, principalmente, um clima de incertezas. Na visão do economista Orlando Caliman, as conseqüências não se restringirão, apenas, ao campo financeiro. Em uma entrevista, exclusiva, para a Revista Pedras do Brasil, o analista aponta que as expectativas trabalham na direção de queda do ritmo de crescimento da economia, com impacto, principalmente, em 2009.

O lado bom desse cenário, segundo Caliman, é que, felizmente, o Brasil está preparado para o momento, pois dispõe de reservas, tem um mercado interno forte e tem bom relacionamento comercial com os países emergentes. Em contrapartida, as exportações para o mercado norte-americano, devem sofrer restrições. Confira a entrevista concedida no dia 10 de outubro. Em virtude desse atual quadro de incertezas, mais do que imprescindível frisar a data, pois a irracionalidade dos mercados tem prevalecido na economia mundial.

Revista Pedras – Como os Estados Unidos chegaram a esta crise?

Orlando Caliman – Diferentemente da crise de 1929, cuja origem esteve relacionada a um forte desequilíbrio entre a oferta e a demanda agregadas – com excesso de ofertas –, a crise atual tem fundamentos num comportamento decorrente de exposição a riscos de crédito sem precedentes na história. Ambas, como qualquer crise, se expressam, mais fortemente, no mercado financeiro. Em 1929 a queda forte dos lucros das empresas desencadeou uma forte corrida de venda de ações, que na seqüência atingiram, também, os bancos. Lá, portanto, a economia real deu o primeiro sinal. A crise atual tem fundamentos no abalo nas relações de crédito da economia norte-americana. Financiou-se sem as devidas garantias – créditos de alto risco, os chamados sub-primes –, e, além disso, tais créditos acabaram servindo de alavancagem para derivativos que se multiplicaram pelo mundo. Como a origem era potencialmente "podre", por não serem honradas, desencadearam uma onda de temor de inadimplências nos elos subseqüentes da cadeia. Bancos portadores de títulos, cujas origens estavam ligadas ao mercado de hipotecas imobiliárias por exemplo, passaram a ter dificuldades de acesso ao crédito. Na verdade, os Estados Unidos chegaram a essa crise por total falta de controle e de limites nas operações financeiras. Enquanto no Brasil a alavancagem nas operações financeiras dos bancos chega, em média, a 11 vezes – nos Estados Unidos atinge até 30 vezes. Trata-se de uma exposição a riscos, sem igual. Em resumo, construiu-se um verdadeiro "estado de desconfiança" em escala global.

RP – Além dos Estados Unidos, a Europa também foi afetada. Em que proporções?

OC – A Europa foi atingida através de três canais: o canal da "bolha imobiliária" norte-americana, o canal do crédito e o canal da economia real. Vários bancos da Europa tinham, nas suas carteiras, títulos derivativos dos créditos hipotecários dos Estados Unidos. Esses tiveram que correr para cobrir os seus prejuízos. E isso é feito, em situações normais, através de operações interbancárias. O problema é que, também, entre os bancos estendeu-se o temor de inadimplências inter bancos. Daí decorre a necessidade dos bancos centrais europeus injetarem dinheiro no sistema. Na verdade, o crédito foi, totalmente, travado. O terceiro canal é o relativo à economia real. Nesse caso, o sinal dado pela economia norte-americana é de que a economia não mais irá crescer. E isso significa queda na produção, desemprego em perspectiva etc. Fora dos Estados Unidos, a Europa foi à região mais atingida.

RP – Qual será o impacto dessa crise nos países emergente?

OC – O peso das economias emergentes na economia global tem crescido rapidamente nos últimos anos. Muito provavelmente nos próximos dez anos o conjunto das economias desses países ultrapassará o tamanho do conjunto das economias dos países dês envolvidos. Esses países serão menos impactados. China, Índia, Brasil, Coréia, Rússia e outros crescerão menos em 2009, mas não serão atingidos tão fortemente como a Europa e os Estados Unidos. O primeiro impacto virá a partir das restrições de crédito – mais escasso e mais caro –, depois pela redução do comércio com os países desenvolvidos, por força da queda da demanda.

RP – Para o Brasil, diretamente, quais serão as conseqüências?

OC – No Brasil, os primeiros impactos estão sendo sentidos, principalmente, no mercado financeiro. Ações em baixa, crédito em falta, juros altos etc. Mas, principalmente, um clima de incertezas. Naturalmente, as conseqüências não se restringirão, apenas, ao campo financeiro. As expectativas trabalham na direção de queda do ritmo de crescimento da economia, com impacto, principalmente, em 2009. Felizmente, o Brasil está preparado para o momento. Dispõe de reservas, tem um mercado interno forte, tem bom relacionamento comercial com os países emergentes. Exportações para o mercado norte-americano, por exemplo, sofrerão mais restrições.

RP – O pacote norte-americano é a solução?

OC – Ele é parte da solução, não o seu todo. A solução também não mais depende, exclusivamente, da economia norte-americana. A crise é global e exige, também, soluções globais. Todavia, a sinalização para o retorno da confiança deverá, necessariamente, sair dos Estados Unidos. É bom lembrar que nenhuma outra economia no mundo tem melhor condição de sair dessa crise do que os Estados Unidos. Não é sem razão que todos estão correndo para o dólar e títulos do tesouro norte-americano, como forma de escapar de perdas. O dólar é uma das poucas moedas que está se valorizando. Parece paradoxal, mas é verdade. O mundo acredita que os Estados Unidos têm condições de dar a volta por cima, mais que qualquer outro país.

RP – Qual o preço que os Estados Unidos pagarão para superar este momento tão delicado?

OC – É difícil mensurar o custo total dessa "insanidade" geral, que acometeu os Estados Unidos. Os números expostos ao público dizem respeito, principalmente, aos recursos que o governo está disponibilizando para salvar instituições financeiras. No total, talvez isso chegue a mais de dois trilhões de dólares até o final da crise. No entanto, o que, ainda, não alcançamos são os estragos nas finanças das empresas e das pessoas. Estimativas preliminares dão conta de que cerca de 7 trilhões de dólares evaporaram no mercado acionário.

RP – Qual o principal desafio para o próximo presidente norte-americano e em que estado ele assumirá o país?

OC – O principal desafio será, sem dúvida, o de construir um novo "estado de confiança". O governo norte-americano tem que, primeiramente, estancar o processo de irracionalidade do sistema econômico e reconstruir os seus fundamentos e referenciais. O lado psicológico, agora, conta mais do que outra coisa. E ele tem que ser trabalhado no coletivo. Como não existe a situação do "eu seguro" – segurança individual –, a grande tarefa do Estado – governo norte-americano – é construir essa segurança.

RP – Há como remediar esses acontecimentos?

OC – A situação está a tal ponto que a única saída é remediar ou remediar. E digo mais, nem se trata de remediar, mas sim reconstruir um estado de confiança, desconstruindo a onda de desconfiança atual.

RP – O presidente Lula segue firme em seu caminho afirmando que a crise não afetará o Brasil, mas caso afete, quais suas proporções?

OC – Eu acho que a ficha agora caiu. Também Lula e Governo estão admitindo a crise e seus prováveis impactos na economia brasileira. Talvez não tenham ou não queiram externar a dimensão desses impactos. Podemos ficar mais tranqüilos que a maioria dos demais países do mundo, porém, não totalmente. Muito provavelmente, não teremos o tanto de novos empregos que estávamos esperando. As nossas vidas já estão sendo afetadas. Não devemos, isto sim, nos apavorar. A situação não é de parar de comprar ou de produzir. Se, simplesmente, deixarmos de comprar, num movimento coletivo, aí estaremos criando as condições para que a crise se aprofunde.

RP – Especialistas dizem que o Brasil irá sentir a crise em 2009. O senhor acredita nisso?

OC – O Brasil esperava crescer a 4,5% em 2009, antes da crise. No momento as expectativas indicam que chegaremos a 3,5%. Trata-se de uma ótima taxa, no contexto das demais economias do mundo. Alguns especialistas apontam para 3%. De qualquer forma vamos crescer no próximo ano. E 3% diante da história dos últimos 15 anos de economia brasileira já é bom. Naturalmente, alguns setores sentirão mais que outros.

RP – Qual a importância deste momento para a história da economia mundial?

OC – Eu acredito na lição e no aprendizado para uma economia globalizada. Toda crise tem o seu lado negativo, mas também tem o seu lado positivo. A parte positiva da crise é que ela funciona como depurativo de excessos. São nesses momentos que surge a força da "destruição criativa", numa referência ao grande economista Schumpeter. Assim como a criatividade e inovações nos mercados financeiros geraram as condições para crise atual, também sairá da criatividade a sua solução.

RP – Existe alguma forma de amenizar os impactos do sobe e desce das ações?

OC – É bom deixar claro que hoje – 10 de outubro –, o que está prevalecendo no mercado é a irracionalidade. Como não existem parâmetros e referências para as decisões, prevalece o caos. Os movimentos de "manada" são mais comuns. O sobe e desce, somente, será contido quando um mínimo de confiança voltar aos mercados. Enquanto prevalecer a desconfiança, não podemos esperar nada de racional. Algumas medidas isoladas poderão sinalizar para momentos de trégua. É o caso, por exemplo, do pacote norte-americano. Como o problema é global, a forma de amenizá-la ou solucioná-la deverá vir através de ações articuladas e operadas em escala global.

RP – O setor ornamental está passando por um momento muito especial devido à redução no consumo externo. O senhor acredita que a crise norte-americana deve afetar, ainda mais, o setor?

OC – Na verdade esse setor já vinha sofrendo com a valorização do Real. Agora o problema é, ainda, maior pois passa a ser de demanda. Sem dúvida a economia norte-americana, que já está em recessão, continuará nessa mesma toada e com maior intensidade no próximo ano. Como a crise norte-americana está assentada, sobretudo no mercado imobiliário, o setor de construção será o mais afetado. Por conseqüência, a demanda por produtos construtivos será mais atingida.

RP – Para os que estão exportando, apesar da crise, quais devem ser os cuidados?

OC – Em plena crise o cuidado maior talvez seja aquele relativo aos potenciais calotes. Certamente empresas importadoras norte-americanas estarão mais propensas a crises de liquidez. Já, nos seus negócios, as empresas deverão "apertar os cintos", refazendo os seus planejamentos e fazendo os seus ajustes. Não é fácil, mas é o que sobra de alternativa. As empresas precisam, também, se ajustar às novas margens impostas pelo mercado ou mesmo redirecionarem as suas vendas – mercados – e portfólio de produtos.

RP – No início de outubro, o presidente Lula defendeu a internaciolização das empresas brasileiras. Qual sua opinião sobre esta ação?

OC – A internacionalização é inevitável e as empresas devem buscá-la. Mesmo nas crises é possível, além das lições, extrair oportunidades. Como o Brasil está mais preparado do que boa parte dos demais países e essa percepção é extensiva, também, para as empresas, talvez esse seja um momento interessante, onde a criatividade brasileira possa ser mais acionada. É bom ter em mente que a demanda por alimentos continuará crescendo, como também para produtos na área de energia.

RP – Há outras oportunidades que podem ser aproveitadas pelo Brasil a curto prazo?

OC – As oportunidades estarão concentradas, principalmente, nos setores de alimentos e energia – energias alternativas, por exemplo. Mas, acredito que as maiores oportunidades surgirão na saída da crise. O Brasil tem robustez para chegar lá mais preparado do que outros países. Nesse caso, podemos ganhar espaços no campo das commodities metálicas – aço, minério e derivados –, petróleo e derivados, florestal e celulose. Poderá avançar, também, nos setores moveleiro, rochas ornamentais, automobilística e alimentos em geral. Em síntese, 2009 poderá ser um ano de ajuste e preparação para a retomada da economia mundial em 2010. Mas, para isso, temos que fazer alguns deveres de casa, principalmente o governo com políticas bem formuladas e direcionadas para a qualificação do parque produtivo nacional. E, nesse aspecto, o Espírito Santo já sairá na frente, pelo que já fez de investimentos e ainda fará. O Espírito Santo não somente está preparado para a crise, como sairá, ainda, mais forte dela, lá na frente.

Orlando Caliman é professor aposentado do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Diretor Técnico da Futura.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

´COISA PRA GRINGO´ - Produção voltada ao exterior

Extraído do site Diário Nordestino

Por decorrências do alto preço do granito exótico, os produtos da Mineração Martins são destinados a estrangeiros.
Setor de modismos: de rochas ornamentais é muito influenciado pela moda. Hoje, certa rocha é lucrativa, amanhã, não (Foto: Silvana Tarelho)

Sobral. Material pra gringo ver. É mais ou menos assim que funciona a comercialização das rochas extraídas pela Mineração Martins. Diferentemente da Granistone, que trabalha, no município de Santa Quitéria, com um produto clássico e com grande penetração no mercado interno, as rochas exóticas retiradas de Sobral e Massapê pela empresa capixaba tem como destino exclusivo o mercado estrangeiro.
Estados Unidos, Itália, Espanha, França e mesmo a China são os principais compradores destes granitos, como informa Anderson Minete. ´O brasileiro não consegue comprar esses produtos, é só para gringo. O custo é muito alto´, justifica.
Enquanto a média de preço dos granitos vendidos no País é de até R$ 100 o metro quadrado, a média dos granitos da Mineração Martins é de R$ 190 a mesma medida. O motivo para esse preço mais elevado é a característica das rochas, que são mais duras, difíceis de retirar, e cheias de fraturas, trincos. ´Se chegar na serraria, vende. Vender é fácil, difícil é beneficiar´, aponta Minete.
Da mina, a pedra sai em blocos, que serão transformados em várias chapas. Cada chapa possui 5 metros, ou seja, gera um lucro de cerca de R$ 950. Esse trabalho de transformação em chapas é feito em serrarias, onde a pedra também é serrada e polida, além de passar por outros processos, como a calibragem. ´A chapa tem que ser reta, não pode ter empeno´, explica Minete. Como esse beneficiamento é feito em Vitória (ES) para as rochas da Mineração Martins — porque, segundo ele, as serrarias daqui ainda não têm experiência com este material —, os gastos acabam sendo mais elevados, por decorrência do frete.
´Mesmo assim, ainda é viável´. Os gastos com esse transporte respondem por 10% do investimento que a empresa faz´, garante o gerente.
Segundo Minete, existem, inclusive, chineses que estão comprando os blocos e fazendo o beneficiamento na China. De lá, vendem, em especial, para os Estados Unidos, com um preço ainda menor do que aquele que sai do Brasil. A explicação para isso é a mesma que faz com que os produtos têxteis brasileiros enfrentem a competição desleal: o baixo custo da mão-de-obra por lá.
Contudo, mesmo com o mercado ávido por estes materiais, Minete lembra de uma certa característica problemática do setor: ´As pedras são como moda de roupa. Eles rendem enquanto está na moda´.
Trabalho automatizado: No início deste ano, a empresa trocou britadeiras por máquinas (Foto: Silvana Tarelho)

POUCOS EMPREGOS NA PEDREIRA
Máquinas substituem homens
Sobral. Ele começou como ajudante em pedreira, no Estado do Espírito Santo e, hoje, depois de 12 anos, ainda retira das pedras o seu sustento. Mas o ambiente mudou: veio para o Ceará. ´O calor é bem maior´, compara. Além disso, o cargo também é outro. Serudes Vernek agora é o encarregado (gerente de mina) de uma das pedreiras da Mineração Martins em Sobral.
Ele trabalha o dia inteiro. Trabalho puxado, às vezes nem vai à sede do município, acaba ficando mesmo no alojamento. O ganho financeiro, atualmente, é medido por porcentagem nos lucros da pedreira. ´Em média, dá cerca de sete salários mínimos´, calcula.
Juntamente com ele, vários funcionários do Espírito Santo se deslocaram para as pedreiras do Ceará. São cerca de 12 trabalhadores por pedreira, entre encarregados, fioristas (aqueles que manuseiam as máquinas) e ajudantes, estes outros recebendo cerca de R$ 1 mil por mês. Aos poucos, os cearenses estão entrando no negócio, mas as perspectivas de geração de emprego não são tão animadoras.

Granistone comercializa 4 mil metros cúbicos, por mês, de blocos comerciais. A vedete são as rochas brancas
Mecanização
O motivo é que, cada vez mais, o trabalho de mineração com granito exótico está sendo realizado por máquinas. No caso da Mineração Martins, a mudança começou no início deste ano.
´Há um ano, havia as britadeiras. Hoje, são as máquinas que atuam, e cada uma substitui seis marteleteiros.
Muita gente perdeu o emprego. É assim em seis das sete minas´, informa um dos gerentes empresa, Anderson Minete. O motivo da alteração nos meios de extração foi, segundo Minete, porque o material exótico é bem mais delicado, e não pode sofrer a vibração das britadeiras e do martelo. O corte dos blocos, hoje, é feito através de um fio, que custa R$ 17 mil por peça, e é usado por apenas três meses. ´Essa mineração não gera muito emprego. É máquina. Não gera nenhum benefício direto para a população, a não ser para os poucos que trabalham aqui. Quando coloca a máquina para cortar, é só ela´, analisa o empresário.

GRANITO BRANCO CEARÁ
´Um dos melhores do mundo´
O mercado de rochas ornamentais é intrinsecamente ligado a modismos. Ora se buscam granitos de tal cor, ora de outra; em um momento se quer mármores com certa textura, depois já se procura algo diferente.
Entretanto, existem algumas rochas consideradas clássicas, que, como diz Júlio Filho, diretor Comercial de uma das maiores empresas do setor no Brasil, ´passam incólumes a estas variações´.
Filho representa a Granistone S/A, que comercializa o denominado Granito Branco Ceará, extraído no município de Santa Quitéria, no Sertão Central cearense. ´Esse granito nunca sai de moda, porque é facilmente combinado com outras cores. Já é um produto tradicional, tem o seu mercado há mais de 20 anos´, esclarece o diretor da empresa.
A Granistone vende 4 mil metros cúbicos, por mês, de blocos comerciais. ´Nós extraímos quatro vezes isso, mas o resto acaba quebrando, não atende às especificações para o mercado´, explica. O metro quadrado é comercializado a R$ 150, enquanto que a maioria das rochas semelhantes são vendidas abaixo de R$ 100. ´O Branco Ceará é considerado um dos melhores do mundo, pela textura, por ser mais resistente, pelo lustre. E porque ele só existe em Santa Quitéria´, justifica Filho.
Cerca de 70% da produção é destinada ao mercado interno, especialmente para o Sudeste do País. A Europa e os países asiáticos também são consumidores ativos do material. A Granistone emprega quase 100 funcionários, sendo 65 na produção e 30 na administração. A mineradora possui uma pedreira também no Piauí e, segundo Filho, outras áreas estão sendo pesquisadas, no Ceará e em outros estados. ´Mas, até agora, ainda não encontramos uma outra ocorrência interessante economicamente´, diz. A empresa ainda não consegue mensurar a vida útil da pedreira. ´Nós conseguimos vislumbrar por muitos anos ainda, não conseguimos ver um fim´. A Granistone possui ainda outra jazida no Ceará, em estágio inicial, em Tauá, onde há granito preto.

Rochas do Ceará são oportunidade para o Interior

Extraído do site Diário do Nordeste

Rochas ornamentais: apesar de gerarem poucos empregos por empreendimento, a grande quantidade de pequenas empresas dá peso à atividade (Foto: Silvana Tarelho)

A maioria dos municípios cearenses possui potencial para atividade, que pode incrementar a economia

A atividade não gera um impacto muito grande no município em que atua, nem a entrada de uma nova empresa mineradora é capaz de criar um número elevado de postos de trabalho, mas a exploração de rochas ornamentais tem um papel importante no setor mineral do Estado do Ceará. Isso porque o segmento é formado, em geral, por pequenas empresas, mas muitas, atuando em várias regiões, como destaca o presidente do Sindicato das Indústrias de Mármores e Granitos (Simagran-CE), Roberto Amaral.
´As rochas ornamentais têm um impacto positivo em termos econômicos para o Interior. No Ceará, a maioria dos municípios tem potencial para rochas´, destaca. Entretanto, Amaral, que é também presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva Mineral, levanta que, para se desenvolver, o segmento precisa de apoio governamental. ´É preciso que o Estado crie alguns atrativos para que empresas do setor que estão vindo para o Nordeste possam ser atraídas ao Ceará´.
Rochas preciosas: pedras ornamentais cearenses são vendidas a valores mais elevados pela dificuldade de extração e, principalmente, por serem únicas no mundo

Esse estímulo, segundo ele, já começa a ser garantido. ´Precisamos criar um posto de serviço, uma espécie de depósito, para que as pequenas pedreiras no Interior possam concentrar o seu produto. Terá toda uma gama de serviço que facilitará a exportação, a preparação do produto para ser comercializado. O investimento seria pesado se tivesse que ser feito por cada uma das empresas locais´, aponta o presidente.
Posto na RMF
De acordo com o empresário, o posto deverá estar instalado ainda no ano que vem. ´Vai ser na RMF [Região Metropolitana de Fortaleza], mas a localização exata ainda está sendo estudada´, informa Amaral. Ele esclarece que, atualmente, está ocorrendo uma chegada intensa de empresas mineradoras de rochas ornamentais de outras regiões aos estados nordestinos.
´Por uma questão de necessidade de matéria-prima para o setor, principalmente para abastecer o parque industrial que existe no Sudeste, especialmente no Espírito Santo, muitas pequenas mineradoras dessas estão vindo minerar no Nordeste, em busca de rochas em diferentes padrões´.
Riqueza nordestina
As rochas nordestinas, explica, são ricas em variações de cores e matizes. No Ceará, a atividade ganhou notoriedade na década de 1990. ´Mas se falar da posição do Estado em relação a rocha ornamental, em comparação com os principais estados produtores do País, ela é tímida.
O potencial é enorme, mas tem que trabalhar´. O Espírito Santo domina a atividade hoje no Brasil.
Além das várias mineradoras no Ceará, existem ainda nove empresas de beneficiamento dos blocos que são retirados das pedreiras, e 70 a 90 marmorarias, que transformam a matéria-prima em produto final, como mesas, pias, etc.
A maior parte da produção estadual é escoada para o mercado interno.
PRODUTO EXCLUSIVO
Granito exótico atrai investidores do Sudeste
Sobral. O mercado no Espírito Santo, principal Estado produtor de rochas ornamentais, ficou apertado. Esse foi o motivo. ´Lá, tinha muito calote, competição grande, tinha gente vendendo abaixo do preço de custo´, informa Anderson Minete. A solução encontrada: vir explorar rochas aqui no Ceará. Assim, desde 2003, a empresa Mineração Martins iniciou suas atividades por aqui, entrando em parceria, para isso, com a Vulcano Export Importação e Exportação.
Minete, que é gerente da empresa, afirma que a decisão foi acertada. Em vários pontos em Sobral e Massapê, foram encontradas ocorrências de rochas comercialmente viáveis. ´As rochas que produzimos são chamadas de granito exótico. Isso porque não tem iguais no mundo. São difíceis de tirar, por isso, são mais caros, e exclusivos´, explica o empresário das pedreiras. Essas pedras possuem uma grande variação de cores, característica que faz o material ser chamado de ´louco´, e é o que faz o diferencial. ´Quanto mais louco o granito, mais eles, especialmente os americanos, querem´.
A Mineração Martins possui sete pedreiras na região, cada uma com um produto diferente: Rosso Barroco, Energy Abstrato, Laredo, Amarula, Nogat, Branco São Paulo e Nacarado, sendo este último o de maior valor para a venda. De cada um destes materiais, as utilizações são as mais diversas: bancada, mesa, pia, fachada de prédio, entre várias outras.
Investimento alto
O trabalho de extração é feito em cima de pedidos, explica Minete, mas a média mensal acaba sendo de cerca de 100 metros cúbicos por mês. Segundo ele, os recursos investidos para iniciar cada pedreira foram de aproximadamente R$ 900 mil. ´Tem empresa que não vem porque o investimento é alto. Tem que arriscar, não tem uma demanda fixa, mas tem despesa fixa. Contudo, a demanda hoje é maior que a oferta´, garante.
A venda é em dólar, e o produto vende bem, mesmo com a crise, afirma.
Além do investimento na instalação da pedreira, são gastos outros R$ 40 mil em manutenção de cada pedreira por mês. ´O retorno não é imediato´, avisa.

Sérgio de Sousa
Repórter