Mas, sem qualquer sombra de dúvida, as estrelas da feira são as rochas ornamentais, ali expostas em milhares de chapas polidas fascinantes que, por suas belezas naturais, roubam a cena e fazem qualquer indivíduo hesitar em escolher a mais bela.
Como todo show, para fazer sucesso, necessita de uma boa produção, um elenco de primeira categoria, direção, técnicos, convidados especiais, contra-regras, platéia-público, figurantes, dublês, cenário e muitos outros ingredientes indispensáveis a um “show business”.
Na abertura, descerrada a cortina do palco iluminado, além de representantes da classe produtora, estão importantes autoridades, muito bem-vindas, das diversas esferas da administração pública federal, estadual e municipal, convidados especiais que enaltecem o setor de rochas que, diga-se de passagem, promove o maior evento do Estado e, em se tratando de rochas ornamentais, o maior do Brasil, da América do Sul e, quiçá, do mundo, que leva o nome do Espírito Santo aos quatro cantos do planeta.
Findas as apresentações e os discursos empolgados, os elogios, as promessas, tudo registrado pela mídia, entram em cena os orgulhosos mineradores com suas equipes técnicas; os contra-regras que mantêm a infra-estrutura, os cenógrafos que deixam os estandes impecáveis, embelezados por lindas recepcionistas e modelos, vestidas com tecidos que imitam rochas e que atraem a atenção do público e dos compradores de pedras cada vez mais exigentes; muito (já foi mais) uísque e guloseimas; muita conversa e troca de informações; muito trabalho para a produtora do evento Milanez & Milaneze e para os produtores de rochas ornamentais, que aproveitam o evento, altamente qualificado, para divulgar, lançar e vender seus produtos, marcas e serviços, estabelecer parcerias e novos negócios e compartilhar experiências. Após quatro dias de trabalho árduo, finda o grande espetáculo, que deixa aquelas saudades que duram até a próxima feira.
Porém, nos bastidores daquele palco tem continuidade um outro espetáculo, desta vez dramático, intitulado: “A eterna espera por uma concessão de lavra, uma guia de utilização e uma licença ambiental para extrair um bloco de rocha ornamental para gerar as belezuras da próxima feira”. Este tem hora para começar, mas não para acabar. Não tem público nem platéia, não tem convidados especiais, não tem cenógrafo, nem uísque e nem guloseimas e, muito menos alguém importante que esteve no palco iluminado do espetáculo anterior, para discursar, aplaudir ou gritar em favor do minerador ou lembrar da promessa feita.
O novo espetáculo não tem charme, não é atraente e não tem estrelas. É feito por um único ator-minerador solitário que, em respostas aos seus testos e anseios, contracena com: “está sendo analisado”, “já saiu da minha mesa”, “quem sabe na semana que vem”, “está faltando documento”, “está faltando gente”, “só falta assinar”, “está viajando”, “não tem verba”, e “eu não posso fazer nada”.
Nesse espetáculo, a cortina não fecha nunca porque ele é eterno e, além disso, o ator-minerador é incansável na luta contra os entraves burocráticos porque, apesar dos pesares, para setor de rochas ornamentais funciona a seguinte máxima: “the show must go on”.
Rubens Puppin
Geólogo do Sindirochas