sábado, 25 de outubro de 2008

Aversão a risco eleva procura por seguro para crédito a exportação

Extraído do site Último Segundo

Com a propagação da crise financeira dos Estados Unidos para o resto do mundo, os exportadores brasileiros ficaram mais cautelosos e passaram a procurar com mais freqüência seguro de crédito para linhas do comércio exterior. Na outra ponta, com a aversão ao risco disseminada e o aumento da demanda, a resposta foi imediata: taxas mais altas e diminuição dos prazos de financiamento, que poucas vezes ultrapassavam o período de um ano.

Mesmo assim, as seguradoras já amargam o pagamento de indenizações a contratos que não foram honrados.

Atuam nesse mercado no Brasil cinco empresas, todas de origem internacional: Coface, Euler Hermes, Crédito y Caución, CesceBrasil e Mapfre - o setor é regulamentado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), subordinada ao Ministério da Fazenda. De acordo com a Susep, as receitas de prêmios emitidos entre setembro de 2007 a agosto de 2008 somaram R$ 87,884 milhões, com o crescimento dos prêmios de 51% em agosto sobre igual período do ano anterior. No mundo, a expansão foi bem menor, de 7%. No mesmo intervalo, a proporção dos sinistros reconhecidos sobre os prêmios emitidos, segundo cálculos da Coface, foi de 57%, maior do que a taxa de 50% de agosto de 2007 a setembro do ano passado.

Em condições normais, os exportadores podem recorrer a três tipos de instrumentos para se protegerem de um calote: pagamento antecipado, carta de crédito e o seguro. "Neste momento de crise, é muito difícil obter uma carta de crédito, e o pagamento antecipado só ocorre se a importadora estiver capitalizada, então as empresas estão buscando mais o seguro", explica o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Para se ter uma idéia, a maior empresa do ramo, a Coface, registrou um aumento de 30% na consulta do serviço de julho a setembro em relação ao trimestre anterior, de acordo com o diretor comercial da empresa, Daniel Nobre. Os números absolutos não são divulgados pelas companhias. Mais nova no mercado doméstico, a Crédito y Caución aportou no Brasil praticamente junto com o início da crise financeira mundial, em junho do ano passado. Mesmo assim, de acordo com o presidente da empresa no Brasil, Jesus Victório Cano, o número de propostas submetidas à análise este ano dobrou ante o início das operações em 2007. "Estamos percebendo que, desde que começou a crise nos Estados Unidos, as empresas estão procurando mais o serviço de crédito porque a situação das compradoras no exterior está mais complicada", afirma Cano, referindo-se a dados mundiais.

A constatação dos dois executivos é de que o instrumento está se disseminando. Numa primeira fase, o aumento da busca por esse seguro no Brasil deu-se justamente por conta da melhora da economia global, que proporcionou a diversificação dos destinos das exportações nos últimos anos, até então muito concentradas em Estados Unidos, Europa e Mercosul. O que era uma oportunidade de negócios, se transformou também numa incerteza em relação à fonte pagadora, que era o desconhecimento desses "novos mercados". Daí a busca pelo hedge.

"Quando um exportador procura o seguro de crédito é porque ele tem dificuldade de acesso de informação no exterior, não sabe seu processo regulatório", explica Nobre. "A cobrança internacional é cara e a fidedignidade das informações é difícil", continua, acrescentando que, além do seguro em si, que protege contra o risco comercial, o instrumento serve como um hedge para riscos políticos.

Crédito mais caro

Para Castro, da AEB, atualmente há um aumento visível dos dois tipos de risco. Dessa forma, não há como escapar: o crédito ficou mais caro. "É preciso analisar a relação custo/benefício da operação e isso só pode ser feito caso a caso, não há uma regra." Mesmo sendo um dos poucos instrumentos acessíveis neste momento, o vice-presidente da Associação alertou para o fato de que até mesmo o seguro costuma secar, principalmente no caso de países que possam vir a enfrentar um problema econômico no futuro. Seria um bom exemplo dessa situação o conjunto de países da América Latina, já que a região é dependente das commodities, que estão em queda.

De acordo com dados do Banco Central, o volume de operações cambiais somou este ano, até a segunda semana de outubro, US$ 153 bilhões, dos quais US$ 36 bilhões em ACCs; US$ 38 bilhões de pagamento antecipado e US$ 78 bilhões das demais operações. "As ações do BC claramente estão ajudando, somos dependentes delas. Se não fossem as medidas, não teriam mais operações", avalia Castro. Ele refere-se às iniciativas da autoridade monetária de irrigar o sistema e, em especial, a Medida Provisória 443 que concede linhas de financiamento a bancos, com garantias, desde que os recursos sigam para o comércio exterior.

Ainda que todos os agentes do setor estejam detectando um aumento da busca pelo seguro, Castro salienta que sua representatividade dentro do mercado ainda é muito pequena, em torno de 5% do total. Cano admite que essa cultura ainda pouco se expandiu no País e relatou que, até o momento, a maior procura pelo instrumento é de empresas que vendem para os Estados Unidos. "A crise vai representar uma mudança da economia global, de tudo o que conhecemos até o momento", avalia. Nobre, da Coface, confidenciou que a exposição de risco da empresa (volume de risco que é assegurado) para linhas que contemplem importadores dos Estados Unidos foi reduzida em 20% no trimestre entre junho a agosto. Na Argentina, a diminuição foi ainda maior, em 30%, já que além do risco comercial, teme-se o risco político.

Evidentemente, segundo Cano, quando o exportador vende para países afetados pela crise há um temor maior com relação à inadimplência. "As taxas aumentam, o limite de risco se adapta à situação do país em que a empresa está localizada." Nobre ressalta que o apetite por risco, inclusive o da seguradora, diminui nestas circunstâncias. "Ficamos mais rigorosos, mais conservadores, mais criteriosos em relação a risco político e comercial. Mas a demanda, mais do que nunca, é explosiva neste momento", afirma. A maior demanda é por linhas de curto prazo, com extensão de até 365 dias. Assim, se a atividade é basicamente de curto prazo, dificilmente subirá agora com crise. As empresas consultadas foram consensuais ao citarem o setor da construção civil, em especial o segmento de mármores e granitos, como os maiores demandantes do seguro.

O uso do seguro é baseado em três pilares. O primeiro seria o da prevenção, que está relacionada ao temor de uma solvência creditícia. O segundo, é o da indenização, no caso de ocorrer um sinistro. Já o terceiro está relacionado à gestão de cobrança, quando a empresa seguradora deve reclamar a dívida do cliente. Em todos os países em que a Coface atua (um total de 63), segundo o seu diretor, houve um aumento do número de indenizações da ordem de 55% nos primeiros três meses deste ano ante o mesmo período de 2007. Nobre lembra que, graças ao período de bonança imediatamente anterior ao atual, o setor pôde ampliar o seu colchão de reservas para enfrentar um período mais turbulento, como o de agora.

Microempresa: como ter crédito barato na crise

Extraído do site Gazeta Online

24/10/2008 - 00h37 - Abdo Filho - afilho@redegazeta.com.br

Se o crédito bancário está difícil para exportadores e para importadores, o mesmo não se pode dizer para os micro e pequenos empresários que atuam no mercado interno.

Embora os juros tenham registrado leve alta nos últimos três meses (tempo do agravamento da crise financeira global), em torno de 0,3 ponto percentual, a oferta de linhas de financiamento ainda é grande.

É possível tomar empréstimos com taxa de 6,75% ao ano, caso do Banco do Nordeste, e com 0,95% ao mês, juro oferecido pelo Banco do Brasil (veja opções no quadro à direita).

Depois que o banco americano Lehman Brothers quebrou e a crise começou, os bancos daqui passaram a ter mais cautela: as análises feitas com as empresas estão mais criteriosas. As instituições estão pedindo, entre outras coisas, garantias reais, um planejamento, mais bem elaborado, de viabilidade econômica e um bom gerenciamento financeiro pelas empresas.

Segundo a gerente de Acesso ao Crédito do Sebrae Espírito Santo, Daniela Negri, o momento realmente exige cautela. "Tenho conversado com vários bancos que atuam no Estado e, realmente, não há mudanças fortes provocadas pela crise, mas não há como negar que as análises estão bem mais minuciosas. Até dois meses atrás havia crédito para todo mundo, hoje já não é mais assim", disse.

O presidente Associação dos Representantes de Bancos do Espírito Santo (Arbes), Jorge Eloy, segue a mesma linha de raciocínio. "O ambiente é de crise e exige esse tipo de postura cautelosa", destacou Eloy.

Daniela Negri destacou que apesar da cautela, o momento não é restritivo. "Se a empresa tiver uma boa gestão, não há porque não apanhar o empréstimo. Estamos em uma crise, mas não podemos parar. Os empresários têm que olhar para frente".

Já o aumento dos juros, diz o representante dos bancos Jorge Eloy, não significa grande impacto na vida dos micro e pequenos empresários. "Existe o efeito, sim, mas não é desastroso. Antes, o aumento era necessário para combater a inflação. Agora, são duas forças que impulsionam a alta: a crise e a inflação".

O juro para capital de giro passou dos 30,4% anuais em junho para os 32,9% anuais em agosto.

Investimento no futuro do projeto

Não tão animado a investir agora, o microempresário Admilson Loureiro, da Zocata (que revende sucatas em metal), vê seu produto cair de preço, diante da redução das vendas para a indústria siderúrgica. "É a crise", disse. Ele procurou um banco, na semana passada, para tomar seu segundo empréstimo neste ano. O anterior ficou em R$ 80 mil. Mas "a gerente não recusou o crédito, mas recomendou que eu esperasse um pouco, antes de pegar o financiamento", relatou. Ele ponderou, decidiu não assumir novas dívidas, e acredita que seu negócio vai continuar dando certo nos próximos meses. Não descarta investimentos futuros.

Onde há empréstimo disponível

Instituições financeiras oferecem limites financiáveis de até 100%

BANCO DO BRASIL

· Cartão BNDES: financia a compra de máquinas, equipamentos, veículos e outros bens de produção para sua empresa, diretamente de fornecedores credenciados no portal do Cartão BNDES.

Valor máximo para contratação: R$ 250 mil

Limite financiável: até 100%

Prazo: entre 3 e 36 parcelas mensais

Taxa: 1,14% ao mês

· Proger Urbano Empresarial: financia investimentos de empresas com faturamento bruto anual de até R$ 5 milhões.

Limite financiável: 80% do valor do projeto

Limite: R$ 400 mil, com ou sem capital de giro associado

Prazo: até 72 meses, incluído período de carência de até 12 meses

Taxa: de TJLP mais 5,33% ao ano (taxa equivalente de 0,95% ao mês)

· BB Giro Rápido: Crédito pré-aprovado, disponível para utilização de uma só vez ou em parcelas.

Limite: até R$ 120 mil

Prazo: 18 parcelas mensais

Taxa de juros de 2,24% a 2,50% ao mês

BANCO DO NORDESTE

· Fundo Constitucional do Nordeste: Investimento fixo mais capital de giro

Limite: sem limite específico

Prazo: 16 anos com carência

Taxa: 6,75% ao ano para micro e 8,25% ao ano para médias

· Capital de giro

Limite: para as micro R$ 180 mil, para a pequenas R$ 540 mil

Prazo: 24 meses

Taxa: a partir de 0,98% ao mês

CAIXA

· Capital de Giro

Taxa: a partir de 1,27% mais TR

Prazo: 24 meses

Limite: depende da capacidade financeira e de aprovação cadastral de cada proponente.

BANESTES

· Arrendamento Mercantil (leasing) ou Financiamento de Bens

Finalidade: Aquisição de bens de consumo (veículos e máquinas) ou de produção (equipamentos, industriais ou de serviços)

Taxa de juros: entre 1,75% a 3% ao mês, de acordo com as características do objeto financiado e o prazo da operação

Prazo máximo de financiamento: em até 60 meses

· Capital de Giro Linha de crédito destinada a suprir deficiência de caixa das empresas, com contratação na agência.

Valor mínimo: R$ 2 mil

Valor máximo: depende da análise cadastral do cliente

Prazo: até 24 meses

Juros: 2,75% a 4,56%, podendo ser alterada em função de garantias, perfil do cliente, entre outros

TAC 1,5% do valor do crédito, com mínimo R$ 200,00 e máximo de R$ 500,00

· Invest Giro Banestes Fampes Linha de crédito destinada a financiamento a micro e pequenas empresas, com faturamento de no máximo R$ 2,13 milhões

Valor mínimo: R$ 2 mil

Valor máximo: R$ 100 mil

Prazo: até 36 meses

Taxa de juros: 1,70% ao mês mais TR

TAC: 1,0% do valor do crédito, com mínimo de R$ 30,00 e máximo de R$ 100,00

BANDES

· Profort: Investimento fixo mais capital de giro

Limite: até R$ 50 mil

Prazo: 72 meses com carência

Taxa: 10% ao ano

· BNDES automático:

Investimento fixo mais capital de giro

Limite: até R$ 10 milhões

Prazo: variável

Taxa: 6% ao ano mais TJLP

· Nossocrédito:

Investimento fixo mais capital de giro

Limite: até R$ 5 mil

Prazo: 21 meses com carência

Taxa: 1% ao mês

SICOOB

· Capital de giro

Limite: não tem

Prazo: 12 meses

Taxa: 1,4% a 4% ao mês

· Investimento fixo

Limites: R$ 400 mil

Prazo: 52 meses com carência

Taxa: 2,05% a 2,2% ao mês

· Investimento fixo mais capital de giro

Limite: até 70% do investimento

Prazo: 72 meses com carência

Taxa: 4% ao ano mais TJLP

Perfil do setor

Importância para a economia

55.003 microempresas - É o número de micronegócios que existem no Espírito Santo.

87,6% do total - É quanto as microempresas representam do total de companhias, de todos os portes, atuantes no Espírito Santo.

62.796 micro e pequenas - É quantas micro e pequenas empresas há no Estado.

97,92% do total - É quanto as micro e pequenas empresas representam do total de companhias, de todos os portes, atuantes no Estado

Rais - IBGE. Dados mais recentes de 2006.

Juros em alta

Evolução das taxas no ES

71,89% agosto/2008 - É a taxa média anual de juro do cheque especial para pessoa jurídica em 2008

62,51% agosto/2007 - É a taxa média anual de juro do cheque especial para pessoa jurídica e, 2007

Fique atento

Tenha muita atenção

Diferença é grande. Procure as melhores opções. Com o mercado instável as variações do preço do "dinheiro" são mais visíveis, portanto, vale a pena pesquisar.

Crédito personalizado. Procure as linhas de financiamento que mais se adaptem ao seu negócio. Por exemplo, não adianta apanhar um empréstimo de curto prazo se o seu negócio exige períodos mais longos. Você pode estar pagando mais caro por algo que não vai te atender. O que define o tipo do empréstimo são as suas necessidades.

Planejamento é importante. Estude bem as expectativas de retorno, porque caso suas expectativas não se confirmem você terá que estar preparado para pagar o financiamento. Tenha um bom projeto de viabilidade econômica e uma gestão financeira eficiente. Os bancos pedem o estudo de viabilidade antes de concederem crédito e o Sebrae faz isso gratuitamente para micro e pequenos empresários.

Acompanhe as notícias. Tenha mais conhecimento do cenário que se apresenta. Busque mais informações, analise a crise e consulte um especialista. Procure, antes de tudo, saber o que está acontecendo.

Documentação. Mantenha as garantias reais desimpedidas, e o cadastro com o banco e as certidões negativas em dia.

Fontes: Arbes e SEBRAE

Fundo do Sebrae pagará dívidas de empresas

A gerente de Acesso ao Crédito do Sebrae-ES, Daniela Negri, revelou que um dos planos da entidade para 2009 é criar uma espécie de fundo empresarial contra possíveis crises de crédito. "O fundo teria contribuições dos empresários, e pagaria os financiamentos que não foram honrados por determinada empresa. Em um momento como esse, se esse fundo já estivesse funcionando, os bancos não ficariam com tanto receio de emprestar. Essa ferramenta funciona muito bem na Europa", explicou.