sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Recordar é viver

Extraído do site da Revista Inforochas

Casimiro Costa - A eleição do Emic Costa para presidir o Sindirochas fez a minha quase velha mente voltar a fatos que aconteceram, lá por volta de 1968, nos morros calcáreos de Alto Gironda, Alto Molêdo, Santana, Santo Antônio, Prosperidade, Pedra Branca, Jaciguá, dentre outros. Tempo em que trabalhava – aprendia, crescia e me envolvia– no DNPM. Põe tempo, põe história e põe saudade nisso...
Lembro-me do Ernesto, do Dalmácio, do Costinha, do Ugo e do Morvam Costa, todos labutando naquela frente de lavra de mármore que ficava perto da casa da avó, Dona Antônia, e do velho avô, Casimiro Costa, que também trabalhava na lavra e que, além de boa prosa, tinha o maior prazer em receber a fiscalização do Departamento. Recordo-me daquela mesa de seis lados feita de mármore branco, onde a família almoçava e tomava café com broa. Os netos, as filhas Marilia, Vera, Ercilia e outras, cujos nomes, desculpe, não me lembro (estou falhando!), e eu que estava sempre com fome de tanto sacudir dentro da Dengosa.
Para quem não sabe, o velho Casimiro Costa, avô do Emic, foi um dos pioneiros da extração de mármore em Cachoeiro de Itapemirim, atividade que já beira a quarta geração da família e que, há vários anos, se dedica também ao beneficiamento de mármore, no qual o Emic se tornou um expert. E dizer que conheci esse menino usando fraldas!
Boa sorte, Emic! o velho Casimiro, onde quer que esteja, está envaidecido e feliz com você.
Nicanor Flório Ramos - Nicanor Flório Ramos também foi um dos pioneiros da extração de mármore e calcário. Conheci Nicanor em 1968, quando ele tinha uma pequena lavra de mármore em Alto Moledo, numa pequena propriedade com algumas vaquinhas, que ele ordenhava num pequeno curral na beira da estrada.
Seu maior desejo era a regularizar sua lavra, fonte de sustento de sua numerosa família, perante o DNPM. Mas não conseguia seu intento porque seus terrenos já haviam sido requeridos para pesquisa por terceiros, coincidentemente na época em que a CVRD cobrira todas as jazidas de mármore e calcário do município com requerimentos de pesquisa. O Nicanor era respeitado por muitas razões, quem o conheceu bem sabe. Era trabalhador e tinha fama de bravo porque defendia seu patrimônio e não deixava ninguém entrar no que era seu.
Rezava a lenda que ele, entre outros, fez muitos geólogos, engenheiros de minas e topógrafos descerem o morro do Moledo rolando no meio do capim colonião. Aquilo me deixou avisado.
Num dia cheio de neblina, bem cedinho, vou eu subindo para Alto Moledo na velha rural do DNPM, quando me deparo com o Nicanor no meio da estrada. Segurava um balde de leite e fez sinal para eu parar. “Tô lascado!”, pensei. Ele perguntou, de cara, porque eu não parava para falar com ele, já que conversava com todo mundo. Respondi que várias pessoas me contaram que ele não gostava de gente intrometida que só queria tomar o que era dos outros. Eu, obviamente, seria considerado um deles. Surpreendentemente, disse-me que poderia entrar nos terrenos dele na hora em que quisesse, porque o pessoal da região confiava mim.
Entrei, tomei café com leite e pão em sua casa. Ali, na mesa, reconheci um homem correto, que simplesmente queria trabalhar honestamente e garantir o futuro da família.
Desse dia em diante, nos tornamos amigos e, sempre que necessário, ele ia ao DNPM no Rio de Janeiro onde eu atendia (para isso é que servem os servidores públicos, nunca é demais lembrar). Algum tempo depois, foi possível regularizar sua lavra o que o deixou feliz.
Recentemente, recebi a notícia do falecimento do Nicanor, no dia 22 de junho de 2009, aos 82 anos de idade, deixando aqui uma grande fatia da história dos mármores do Espírito Santo. Foi uma grande perda para sua família e para o setor de rochas ornamentais, pois Nicanor simbolizava força de vontade e empenho na luta que até hoje os mineradores travam para regularizar suas lavras junto ao governo federal.
Embora simples e sintetizadas, aqui estão duas histórias verdadeiras, que, espero, possam mostrar que é possível e necessário haver uma convivência harmoniosa entre os fiscalizadores e o empresariado, sem qualquer tipo de hipocrisia ou corrupção.
Não é preciso usar de truculência – coisa que o DNPM nunca fez e não faz – para fiscalizar uma obra ou uma empresa, especialmente quando se trata de extração mineral cujos empreendedores, de todo o País, passam dezenas (eu disse dezenas) de anos se expondo e mostrando tudo que têm e o que fazem, para conseguirem autorização para trabalhar.
Autorizações para trabalhar, via de regra, são difíceis. Em contrapartida, são constantes as vultuosas multas, os autos de paralisação, os autos de interdição e os autos de apreensão.
A propósito, cadê a bancada estadual e federal? Cadê os que governam o Espírito Santo que nunca se manifestam quando o assunto é mineração?

Rubens Puppin - Geólogo do Sindirochas

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