terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O que especificadores esperam das empresas?

Extraído do site da Revista Inforochas

É preciso aproximar o setor de rochas dos especificadores. Que empresário nunca ouviu esta frase? Mas como fazer com que informações sejam reunidas, de forma clara, e disponibilizadas a quem escolhe o material e sua área de aplicação? Explorar a internet é uma das sugestões do presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil no Espírito Santo (IAB-ES), Marco Romanelli. O arquiteto é mestre em Conforto Ambiental, doutor em Urbanismo, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e conselheiro do Crea-ES.

Revista Inforochas - Com tantas opções de materiais, tanto naturais como industrializados, quais são os principais critérios que os arquitetos utilizam para especificá-los em um projeto?
Marco Romanelli - Os materiais de acabamento – aqueles que ficam aparentes e em contato direto com os habitantes de um espaço – são escolhidos, principalmente, por suas propriedades subjetivas e sensoriais, privilegiando, estas últimas, a visão e o tato. As cores e os padrões visuais, as texturas e a rigidez das superfícies costumam ser os principais critérios de escolha desses materiais. A especificação final de projeto, no entanto, também leva em conta as características técnicas de desempenho, aplicação, manutenção, correção ambiental – mais recentemente – e, sem dúvida, preço.

E no caso das rochas ornamentais, quais as informações fazem a diferença para escolher entre esse e aquele material?
A pedra tem como principal caráter subjetivo a perenidade, no sentido de que, uma vez construído em pedra, um artefato denota a certeza de uma longevidade que supera a de outros materiais, como as argilas ou a madeira, e mesmo os metais. Mesmo que não se construa mais com a pedra propriamente dita, o seu emprego como ornamento sempre contém a mensagem da longa duração, que fica agregada ao objeto construído.
Todas as rochas, portanto, denotam perenidade. E a escolha de uma em especial se dá pelas propriedades visuais de cor, padronagem e textura, somadas às características técnicas e de preço.

Quais as principais dificuldades que um arquiteto encontra ao querer utilizar uma rocha ornamental em um projeto? Por exemplo, nomenclatura, informações sobre o nível de porosidade, de desgaste etc?
A informação rápida e precisa sobre todas essas propriedades mencionadas é essencial para a especificação de um material de acabamento. A falta, a lentidão ou a imprecisão em qualquer destes itens dificulta muito a tarefa de especificação, podendo levar à escolha de outras alternativas, cujo acesso aos dados seja mais disponível.
No setor de rochas ornamentais, é sensível o problema da nomenclatura – que varia muito para um mesmo produto – e ainda falta muita informação técnica sobre o desempenho sob condições adversas e sobre os procedimentos corretos de aplicação e manutenção. Há também o problema da comunicação dos detalhes de projeto – principalmente quanto ao formato dos cortes – às empresas de beneficiamento. Cada vez mais, o projeto é registrado em meio digital, e as marmorarias precisam incorporar esta tecnologia para receber as informações e entregar os serviços e produtos sem falhas.

E quais as principais vantagens os profissionais veem na escolha da rocha ornamental?
O caráter da perenidade que a rocha atribui à construção, de modo subjetivo, em grande parte dos casos ocorre também em termos reais. Artefatos de pedra não apenas parecem mais duráveis, mas tendem a ser mesmo mais duráveis do que outros materiais. Há exceções – como a abrasão e os ataques químicos – mas a regra geral da longevidade se mantém.
Desse modo, esta qualidade subjetiva se soma, na maioria das vezes, à durabilidade real do material. Esta combinação leva a outra qualidade subjetiva, a do valor. Um material que claramente parece durável e é mesmo durável, sempre parecerá mais caro (mesmo que não seja), o que aumenta a percepção de valor agregado ao artefato e estende, ao proprietário, a atribuição de poder adquirir e manter este valor.
Mas não se pode esquecer das propriedades sensoriais, que pertencem a um outro universo perceptivo, no campo estético. Cores, padrões, texturas – que as rochas oferecem em grande variedade – desencadeiam uma infinidade de informações e possibilidades de interpretação sobre os objetos de que são feitos.

Quais os principais eventos do setor de arquitetura e decoração que as empresas de rochas precisam estar presentes?
Uma dificuldade quase intransponível é a fidelidade na reprodução das sensações provocadas pelas rochas ornamentais através dos meios de comunicação. No máximo, e com um controle rigoroso, será possível reproduzir satisfatoriamente suas cores. Mas uma escala de comparação entre os padrões visuais será quase impossível e, evidentemente, a textura das superfícies não pode ser comunicada, a não ser por contato direto.
Assim, os eventos em que as rochas ornamentais possam estar ao alcance dos olhos e das mãos do público consumidor e profissional são altamente estratégicos para as empresas do setor, como exposições temáticas, com ambientes em escala real, exposições técnicas, com amostras expostas, e, porque não, inauguração de obras importantes, principalmente as públicas, em que as rochas estejam aplicadas de modo representativo das suas qualidades.

O reaproveitamento de materiais, antes de ser uma tendência, é um caminho para a sustentabilidade. O setor vidreiro, por exemplo, consegue aproveitar até 100% de uma folha de vidro. As empresas do setor de rochas estão preparadas para atendê-los neste sentido?
O caráter artesanal ainda permeia fortemente a cadeia produtiva do setor de rochas ornamentais. Isso tem o lado negativo da falta de controle inerente ao artesanato, em que as perdas são maiores, mais resíduos são gerados e assim por diante. A gestão de qualidade – principalmente a automação – da cadeia produtiva, nos segmentos de extração e beneficiamento, é uma tendência que precisa ser incrementada, para melhorar o desempenho da atividade, inclusive em suas implicações sobre o meio-ambiente.
Por outro lado, na ponta da aplicação do material, o caráter artesanal pode abrir espaço para o reaproveitamento. O emprego dos chamados casquilhos em revestimentos, o uso de retalhos retangulares de rochas variadas – principalmente em pavimentações externas – e, ao sabor das tendências da moda, o bom mosaico de retalhos irregulares são possibilidades que se somam às muitas outras não diretamente ligadas à construção civil, e que contribuem significativamente para a eficiência no aproveitamento dos bens extraídos da natureza.

Como as empresas de rochas podem trabalhar o design agregando valor aos produtos, para ampliar sua aplicação?
Esse caráter artesanal do segmento de rochas não foge à regra de todo o setor da construção civil brasileira, que ainda engatinha no que diz respeito à industrialização.Praticamente tudo numa obra é feito sob medida, quase sempre para uma aplicação única. Mesmo que este elemento venha a se repetir exatamente, em outra obra, nada existe para tirar proveito da economia inerente à repetição modulada.
Assim, o esforço na criação de produtos industriais padronizados ocorre isoladamente, em cada setor. Creio que as iniciativas de cada segmento são válidas e devem ser incentivadas sempre. Com as rochas ornamentais, o próprio mercado já tem alguns ‘conceitos de produto’, como revestimentos para piso e parede, casquilhos e mosaicos, que podem receber modulação dimensional.
Poderíamos pensar no conceito de frisos e molduras, com desenhos padronizados e modulados dimensionalmente, e, num estágio mais avançado, até mesmo na padronização de desenho e modulação de bancadas, mesas e assemelhados. Este último estágio, no entanto, dependeria da integração dimensional dos demais segmentos da construção, o que só pode ser obtido com um grau de organização deste setor produtivo, ainda desconhecido em nosso país. Há todo um caminho a percorrer. E o quanto antes começarmos, melhor.

Vemos que a internet se tornou uma excelente ferramenta na busca de informações sobre materiais e empresas fornecedoras. Para você, o que uma empresa de rochas precisa ter em seu site para aproximar e até mesmo “fidelizar” um arquiteto?
O conjunto básico de informações – cores, padrões e texturas, ressalvadas as impossibilidades – deve estar disponível de modo rápido e preciso, com especial atenção à nomenclatura das rochas e seus diferentes acabamentos e formatos. Os dados técnicos sobre o desempenho, a aplicação e a manutenção de cada produto também devem estar claramente descritos, com a mesma atenção à uniformidade das informações. Não apenas com relação à internet, esta fidelização tem três frentes de atuação: organizar de modo sistemático o conjunto de informações; disponibilizar estas informações de modo francamente acessível e compatibilizar a recepção das encomendas com os meios digitais empregados nos projetos.

Finalizando, como as empresas e marmorarias podem aumentar a aproximação com os arquitetos?
A presença das informações sobre um material no cotidiano dos profissionais é o principal fator da sua aceitação como escolha preferida para cada aplicação. Conhecer este cotidiano, para saber como estar presente nele, é uma tarefa para qualquer setor de materiais de acabamento.
Cada vez mais a internet é o meio empregado para obter, de modo rápido e preciso, as informações que subsidiam o projeto de arquitetura. Mas, como vimos, há dificuldades intransponíveis, que só podem ser contornadas com o contado direto dos especificadores com os materiais, e é preciso descobrir em que ocasiões este contato pode ser proporcionado.
As exposições temáticas e técnicas, ao lado da publicidade postal, convencional ou digital sempre serão canais a explorar ao máximo. Mas lembramos que as obras referenciais, com grande destaque na comunidade e/ou grande afluxo de público, deveriam ser mais exploradas como fonte de informação sobre os materiais nelas empregados. Arquitetos sempre observam os ambientes com olhos profissionais. E saber, pela imprensa ou pelo correio, qual é a especificação e o fornecedor dos materiais empregados numa obra importante, completa aquele contato direto, essencial no caso das rochas ornamentais.

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