Neyla Tardin
O setor de rochas ornamentais no Espírito Santo está buscando transformar o momento de crise financeira mundial em um novo e diferente ciclo de crescimento. O olhar dos empresários se volta agora para o mercado interno, que hoje representa apenas 4% do consumo de revestimentos, e outros nichos internacionais, reduzindo a dependência dos contratos com os Estados Unidos, epicentro da turbulência global e destino de 78,9% dos mármores e granitos manufaturados exportados pelo Estado.
O ano de 2009 será, portanto, a consolidação dessas alternativas para a sobrevivência e para a retomada da expansão do setor de rochas. “No mercado interno, as empresas passam a concorrer com a cerâmica, o carpete, a madeira e com outros produtos sintéticos. Os resultados dessa ação serão perceptíveis entre 2009 e 2010, pois se leva um tempo para se estabelecer relações comerciais sólidas”, disse o superintendente do Cetemag, Herman Krüger.
Países do Oriente Médio e Europa Oriental são exemplos de mercados, até então, tidos como não-convencionais pelo setor de rochas, segundo o presidente do Sindirochas, Áureo Mameri. Ele reforça a necessidade que os empresários têm de deixar o eixo americano e buscar outros importadores.
“Naturalmente, com a crise, é preciso ter cautela em todos os segmentos. Mesmo assim, o mercado interno tem sido um caminho percorrido com relativo sucesso pelas empresas mais estruturadas e que mais bem se adaptaram à crise. O mercado brasileiro é uma opção interessante para as empresas colocarem seus produtos, desde a chapa até os materiais acabados, com maior valor agregado, considerando uma logística mais fácil entre fornecedores e consumidor final”, recomenda Mameri.
O setor vem sofrendo impactos da crise mundial desde meados de
Segundo dados do Centrorochas, as exportações brasileiras de rochas vêm sofrendo sucessivas retrações ao longo deste ano. Dados nacionais apontam que, de janeiro a outubro, o setor negociou US$ 821 milhões, correspondentes a cerca de 1,7 milhão de toneladas de produtos vendidos. Esse valor representa uma queda de 11,54% no montante, em relação a igual período de 2007.
Dólar versus demanda
Por enquanto, diante da escalada do dólar (neste mês ele atingiu a cotação de R$ 2,46), as exportações têm uma espécie de “bengala”. Isso significa dizer que a valorização da moeda americana compensa, em parte, a redução das vendas para os Estados Unidos, explica o economista Bruno Funchal, professor da Fucape Business School.
“Porém, o recuo do dólar acontecerá de forma mais rápida do que o retorno da demanda para os patamares anteriores”, acredita Funchal, já que, no mercado financeiro, os movimentos são mais dinâmicos do que os efeitos na economia real (que inclui mudança de hábitos de consumo, redução no nível de desconfiança, entre outros aspectos).
O mesmo diz o presidente do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), Waldenor Cezário Mariot: “Os efeitos positivos de uma desvalorização do real podem ser superados pelos efeitos negativos da retração econômica”.
“De repente, será possível transformar esse momento em uma oportunidade para fortalecer-se e preparar-se para um crescimento que, certamente, virá”, finaliza Mariot.
Exportações
As exportações de rochas ornamentais fecharam o mês de outubro com um volume negociado de US$ 87 milhões/FOB (correspondentes a 193 mil toneladas de produtos). Houve queda de 16,58%, em relação ao mesmo período de 2007.
Todos os produtos apresentaram variação negativa, até mesmo a ardósia, que vinha se destacando com índices de variação de crescimento positivo.
Nesse mesmo período, o total das exportações capixabas apresentou uma variação negativa em torno de 7,80%, bem inferior ao resultado em nível nacional (-16,58).
Os Estados Unidos ainda detêm a posição de maiores importadores das rochas ornamentais brasileiras, em volume total e em produtos manufaturados.
A China ocupa a posição de maior importador de blocos de mármore e granito, enquanto o Reino Unido lidera a posição de maior importador das ardósias, e a Alemanha é o principal destino das outras rochas brasileiras.
Crédito e juro garantidos
Bancos centrais de todo o mundo têm lançado medidas de estímulo ao crédito, com injeção de recursos no mercado financeiro, apoio à compra de carteiras de bancos em dificuldade e apoio às construtoras de imóveis – principal parceiro do setor de rochas ornamentais.
Uma boa e tranqüilizadora notícia é que esses pacotes têm amortecido efeitos da crise: o mercado imobiliário deve continuar aquecido diante da manutenção das taxas atuais de juros (de 5% a 12%) e do prazo de até 30 anos para pagar. A garantia foi dada pela Caixa Econômica Federal, que adota a política pelo menos até o final do primeiro semestre de 2009.
“Não vão ocorrer mudanças nas regras este ano e também não há nenhum aumento das taxas de juros previsto para
Quanto ao crédito oferecido às empresas, em especial para o setor de rochas, o Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo (Bandes) espera manter suas principais linhas de crédito voltadas para a exportação, com taxas que partem de 5% ao ano mais TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo).
Para o presidente do Bandes, Waldenor Cezário Mariot, embora a crise não tenha afetado diretamente os recursos disponíveis no Bandes e no BNDES (de onde vêm parte dos aportes repassados aos empresários pelo banco estadual), o momento é de cautela para o setor de rochas.
“Temos um horizonte indefinido no cenário mundial para a economia, de maneira geral, e para os principais clientes de rochas ornamentais,
6 dicas para enfrentar a crise em 2009
O economista Bruno Funchal, professor da Fucape Business School, acredita que o exportador de rochas pode perder menos durante a crise financeira global se adotar uma boa gestão estratégica. Abaixo, ele dá dicas importantes para o empresário que está disposto a ter seu negócio fortalecido, no fim das contas, após esse período de turbulência.
1- Hora de reduzir riscos
A postura conservadora é comum em tempos de crise. Afinal, quando a economia não vai bem, são muitas as variáveis envolvidas: às vezes inflação, às vezes queda de consumo, às vezes desconfiança do consumidor, enfim, tudo ao mesmo tempo. O cenário fica nebuloso e embaça a visão dos empreendedores.
Dessa forma, a saída para quem exporta, por exemplo, pode ser a assinatura dos chamados contratos de “hedge” cambial. São acordos em que o vendedor antecipa o valor a ser vendido
2- Fortaleça seu caixa
A crise financeira mundial é, antes de mais nada, uma crise de escassez de crédito. O financiamento fica mais caro, com juros mais altos, e mais curto, com prazos reduzidos para pagar a dívida. Empréstimos mais comuns, como o do cheque especial, elevaram em muito suas taxas nos últimos meses. Assim, é importante fortalecer o caixa da empresa, ter um bom “estoque” de capital de giro para investimentos. Por isso, poupe.
3- E se o caixa já estiver vazio...
Busque o banco, não tem jeito. Sem capital de giro, não há gestão eficiente, nem sobrevivência da empresa. Uma forma de pagar menos aos bancos na hora de tomar um empréstimo é negociar com o gerente a chamada garantia real.
Ao firmar um contrato de crédito, o empresário deve oferecer um bem (máquina, equipamento, por exemplo) como garantia para o pagamento do valor devido. Dessa forma, cai o risco de o credor deixar de receber o dinheiro de volta, e o banco reduz os juros. Mas é preciso negociar e mostrar que a empresa tem condições totais de arcar com aquela dívida, solidez histórica e boa administração.
4- Cortes, cortes e mais cortes
É preciso trabalhar de forma enxuta. Muitas empresas aproveitam o momento de crise para aumentar a eficiência e eliminar a capacidade ociosa de mão-de-obra e de maquinário.
Um exemplo relativamente recente: depois do apagão, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, todo brasileiro passou a economizar, espontaneamente, energia
5- Emprego, antes de tudo
Enxugar é importante, mas o empresário que fizer cortes “burros” não sai ganhando com isso. É preciso saber o que (e quem) cortar e se realmente é preciso demitir pessoal.
6- Diversificar mercados
Essa estratégia, infelizmente, não dará ao empresário nenhuma vantagem no curto prazo, mas apenas no longo prazo. Essa é uma regra geral, que, se não foi feita ainda, deve ser feita a partir de agora para garantir o futuro do negócio exportador.
Buscar outros mercados, diferentes dos Estados Unidos, por exemplo, requer munição: pesquisas de comportamento dos consumidores e das empresas, números das economias regionais, estatísticas de preferências por consumo, estudo dos segmentos econômicos.
Se o empresário conhece bem sua demanda (ou a demanda que ele quer conquistar), ele erra bem menos em suas tomadas de decisão, sobre controle de custos e sobre administração dos gastos a longo prazo. Ter em mãos boas pesquisas é essencial.
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