quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

“A hora é de cautela, não de desespero”

Extraído do site da Revista Inforochas

Essa é a orientação do presidente da Findes, Lucas Izoton. Em entrevista exclusiva para a Revista Inforochas, ele falou sobre as expectativas da indústria para o ano de 2009, os projetos para a qualificação de mão de obra e de empresários, e como a entidade tem atuado junto ao setor de rochas, para driblar os gargalos logísticos e agregar mais valor aos seus produtos.

Revista Inforochas – O crescimento que o Espírito Santo experimentou, nos últimos cinco anos, está contribuindo para retardar ou amenizar os efeitos da crise americana no Estado?
Lucas Izoton
– Nos últimos anos, a indústria capixaba cresceu muito acima da média brasileira, sendo que o setor de rochas concentrou-se, prioritariamente, no mercado norte-americano. Com os efeitos da crise imobiliária no final de 2007 e da crise mundial, em 2008, isso fez com que o Espírito Santo, que é extremamente globalizado, pois possui uma grande parcela de comércio internacional em relação ao seu PIB, sentisse bastante esse novo momento econômico. A hora, porém, é de cautela e não de desespero. Certamente, aqueles que forem realistas e menos pessimistas poderão reduzir o tamanho e a duração da crise.

Como ficam os empregos e as perspectivas de crescimento, neste cenário?
No ano de 2008, o crescimento da indústria capixaba foi o maior do Brasil e tivemos também um significativo crescimento nos empregos formais gerados. Para este ano de 2009, acreditamos que não teremos crescimento econômico em nosso Estado, pois os setores principais que influenciam nossa pauta de exportação, como minério, aço, celulose e rochas, terão dificuldades para manter o mesmo volume de produção e preços de anos anteriores. É por isso que a indústria capixaba neste ano não repetirá os bons números do ano passado.

O setor de rochas já vem sentindo os efeitos da crise desde 2007. Com o cenário de queda chegando a outros setores, a partir de outubro de 2008, quais as perspectivas para o segmento de rochas?
Acredito que o segmento de rochas, que possui bons empreendedores, com empresas estruturadas, terá que procurar mercados alternativos, fora dos países desenvolvidos, como América do Norte e Europa Ocidental. Penso que existem muitos mercados ainda inexplorados ou pouco explorados, que são os países árabes, Leste Europeu, a Ásia e a África. O outro ponto é que ainda podemos ampliar o volume de utilização de rochas ornamentais na construção civil do Brasil, podendo, certamente, dar um grande impulso.

O que pode ser feito para reverter essa situação a curto, médio e longo prazo?
Buscar mercados ainda inexplorados ou pouco explorados, ampliar o volume de utilização de rochas ornamentais na construção civil brasileira, elaborar produtos com maior valor agregado, de maneira que possamos ter um valor maior por tonelada e modernizar ainda mais nossas empresas para que possamos ter um menor custo produtivo e de logística.

De que forma as empresas podem tirar proveito deste momento?
Toda crise nos leva a grandes reflexões, à adoção de medidas mais duras. Portanto, é hora de rever o planejamento estratégico, considerar que os anos de 2009 e 2010 serão difíceis, reduzir bastante os custos fixos, buscar novos mercados, compartilhar as informações com a equipe, visando aumento de receita e redução de despesa, e entender que o momento é de muito trabalho.

Quais são os maiores entraves para o setor de rochas e como a crise afeta os investimentos previstos para acabar com os gargalos logísticos para o setor, como, por exemplo, a Ferrovia Litorânea Sul, investimento da Vale?
O governo estadual, as entidades empresariais e os parlamentares estão todos juntos trabalhando para resolver alguns gargalos em nossa logística, como é o caso da BR-101, BR-262, ampliação das retro-áreas portuárias, aumento da profundidade da Baía de Vitória, conclusão do aeroporto e o transporte de rochas por ferrovias. A Ferrovia Litorânea Sul até o momento está confirmada pela Vale e acreditamos que ela possa ser uma alternativa de transporte para a região de Cachoeiro de Itapemirim e para a Grande Vitória

Os números mostram que o Espírito Santo ainda tem economia muito dependente de commodities. Que trabalho vem sendo feito para agregar mais valor aos nossos produtos?
Atualmente, a pauta de exportações do Espírito Santo é composta principalmente por mineração, aço, celulose, rochas e cafés, sendo a maioria deles commodities. A previsão, neste ano de 2009, é que os preços médios das commodities sejam inferiores aos praticados durante o ano passado, e isso, certamente, irá inibir o crescimento do nosso Estado.
Quando avaliamos que a Vale tem capacidade produtiva para 29 milhões de toneladas de pelets e a Samarco para 21 milhões de toneladas de pelets, isso já significa agregação de valor porque o preço da pelota é de cerca do dobro do minério tradicional.
A mesma coisa é quando a ArcelorMittal exporta seu aço, já está agregando valor. Agora, realmente precisamos fazer uma ação em todos os setores industriais para que tenhamos produtos com maior valor agregado a exemplo de outros estados brasileiros.

Como isso pode ser aplicado ao setor de rochas?
Sempre que falo na agregação de valor no setor de rochas, exemplifico da seguinte maneira: um bloco de rochas custa, em média, 170 dólares a tonelada; uma placa, 700 dólares a tonelada; e uma pia, feita dessa placa, custa quase 2 mil dólares a tonelada. Isso é agregação de valor, ou seja, os industriais do setor de rochas precisam trabalhar mais com projetos completos, de maneira que possam vender muito mais produtos acabados ou possam exportar ou mesmo vender para o mercado interno o produto acabado e não somente fornecer blocos de rochas ou placas. Isso exigirá um esforço adicional do empresário, mas, certamente, colaborará para que ele tenha um faturamento muito maior e, até mesmo, ter diferenciais em relação a outros concorrentes.

O setor de rochas vem buscando novos mercados, para substituir o americano, como o Oriente Médio. Como isso pode ser consolidado, para um retorno a curto e médio prazo?
Não somente o Oriente Médio, mas o mercado árabe como um todo, o Leste Europeu, o mercado asiático e o africano. Existem muitos outros países que têm interesse na nossa grande diversidade de rochas e isso é uma grande oportunidade. O que precisamos agora é, de maneira sistemática e ordenada, buscar o conhecimento melhor desses mercados, efetuarmos missões empresariais e trabalharmos de maneira profissional para sermos competitivos nesses locais.

Como a crise afeta a construção civil e as perspectivas das empresas de rochas se voltarem mais para o mercado interno? O que pode auxiliar esse processo?
A construção civil, apesar de uma desaceleração do crescimento, continuará sendo um setor importante na economia capixaba e brasileira. E existe uma grande oportunidade para utilizarmos, muito mais, rochas em nossos projetos. O nosso setor precisa fazer um trabalho integrado com arquitetos, escolas e universidades de engenharia para que todos esses profissionais possam conhecer as vantagens da utilização do mármore e do granito em nossas obras de construção civil.

Quais são os principais projetos que cada entidade pertencente ao Sistema Findes planeja para 2009, para que a indústria atravesse esse período de turbulência?
O Sistema Findes está focando em várias frentes de trabalho, nas quais destacamos: nossa meta é sair da capacitação de 30 mil profissionais ano, como ocorreu em 2008, para algo próximo de 50 mil profissionais, em 2010. Para isso, modernizamos, reformamos e ampliamos todas as instalações do Sesi e do Senai no Estado e, ainda, estamos criando três centros integrados nas cidades de Anchieta, Aracruz e São Mateus.
Estamos também trabalhando para que as nossas entidades, principalmente o IEL, possam capacitar os empresários e os seus gerentes, para que, dessa forma, possam fazer uma gestão ainda mais adequada das suas indústrias. A Findes também, junto aos órgãos públicos, tem buscado melhorar a competitividade da nossa indústria, por meio da execução de obras de infra-estrutura e logística, bem como na redução de impostos.
Acreditamos que todas essas ações podem ajudar e um exemplo concreto é uma série de parcerias que a Federação está fazendo com o setor de rochas de Cachoeiro, junto ao Senai local.

Que projetos que a Findes pretende desenvolver, ou dar continuidade, para apoiar o setor de rochas, em 2009?
Entre outras ações que a Findes está fazendo em prol do setor de rochas está o apoio de pleitos deste segmento junto à Apex, ao Sebrae nacional e ao Sebrae-ES. Além disso, o Centro Internacional de Negócios do Espírito Santo (CIN) tem dado apoio e auxílio nas missões empresariais, visando a abertura de novos mercados. O setor de rochas é olhado com grande carinho por todas as entidades do Sistema Findes, podendo contar com novas parcerias em 2009.

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